Copom e atividade abrem porta para mais aperto

Antonio Perez, José de Castro e Lucinda Pinto

O mercado de juros futuros da BM&F absorveu com tranquilidade tanto a previsível decisão do Banco Central (BC) de elevar a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, quanto a surpreendente alta do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre do ano passado. As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) recuaram moderadamente, com a ala do mercado que apostava em alta da Selic em 0,5 ponto ajustando posições. O DI com vencimento em janeiro de 2015 – que capta as expectativas para o rumo da taxa básica até o fim do ano – caiu de 11,02% para 10,97%.

As especulações tendem a girar daqui em diante em torno da possível continuidade do ciclo de alta da Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em abril. A leitura predominante de analistas sobre o comunicado é que o BC “deixou a porta aberta” para mais uma dose de aperto. A possibilidade de nova alta de 0,25 ponto em abril foi reforçada pela expansão de 0,7% do PIB no quarto trimestre. O resultado superou expectativas e prenuncia crescimento este ano mais perto de 2% que de 1%.

“O número do PIB veio positivo e, quando você pensa que a inflação ainda é uma ameaça e pode ser ainda mais pressionada por uma possível nova alta do dólar, a conclusão a que se chega é que o BC tem espaço para subir o juro em mais 0,25 ponto”, diz Luis Eduardo Alves de Assis, ex-diretor de Política Monetária do BC, ressaltando que, a despeito do avanço no trimestre, a economia “claramente patina”.

Para Flavio Serrano, economista sênior do BES Investment, é mais provável que o ciclo de aperto tenha terminado ontem. Sem um dado indigesto de inflação corrente ou disparada do dólar, o Copom – baseado na meta fiscal anunciada, no recuo do IPCA acumulado em 12 meses e no discurso dos efeitos defasados da política monetária – não mexerá mais na Selic. “Não vejo uma ligação direta entre o PIB do quarto trimestre e a continuidade do ajustes. O resultado vai interromper as revisões negativas para este ano, mas o crescimento ainda será baixo, no máximo de 2%”, afirma Serrano.

O ex-presidente do BC Carlos Langoni também avalia que o crescimento acima do esperado no quarto trimestre é um sinal positivo, mas deve fazer pouco para evitar a perda de fôlego na atividade. Ele considera, contudo, seria “muito mais inteligente” da parte do governo manter as ações de recuperação da credibilidade na política macroeconômica para melhorar a percepção de risco do Brasil, o que inclui continuar com o processo de aperto monetário. “O crescimento mais fraco deste ano já está dado. Não há muito que o governo possa fazer para evitar que 2014 seja mais fraco que 2013”, diz Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Para Langoni, o BC deveria promover pelo menos mais dois aumentos de 0,25 ponto percentual da Selic até o fim do primeiro semestre (nos encontros do Copom de abril e maio), com possibilidade até mesmo de uma terceira elevação em julho, o que levaria a taxa básica a 11,50% ao ano. “É preciso restabelecer a confiança na política macroeconômica e, se o governo quer tornar o Banco Central parte disso, é preciso deixar que o regime de metas de inflação fale mais alto, o que, atualmente, quer dizer mais alta de juro.”