Custo de dívidas já absorve 18% da renda das famílias


Lucinda Pinto e Adriana Cotias, de São Paulo

A experiência mostra que juros altos com prazos longos provocam inadimplência na certa

A expansão do crédito no Brasil nos últimos anos, um dos pilares do crescimento econômico, pode esbarrar em um limite nos próximos meses: o comprometimento da renda das famílias. Segundo levantamento feito pela LCA Consultores, as famílias gastam, em média, 18% de sua renda com o chamado serviço da dívida – soma das prestações assumidas e juros pagos ao sistema financeiro.

Essa parcela é considerada elevada. Nos Estados Unidos, por exemplo, ela atinge 15%. Naquele país, a população carrega empréstimos que representam, em média, 134% da renda disponível – taxa que corresponde ao valor total dos bens financiados -, volume muito maior do que no Brasil, onde essa participação é de apenas 29,3%. Nessa conta, estão incluídas operações de financiamento imobiliário e de consumo. Portanto, embora o total de crédito concedido para o consumidor americano seja muito mais elevado do que para o brasileiro, ele pesa menos no orçamento das famílias americanas do que nas dos brasileiros.

Segundo o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, o que explica o peso elevado do serviço da dívida no bolso dos brasileiros é o fato de os prazos dos financiamentos serem muito curtos e as taxas de juros pagas, muito altas. Borges afirma que os juros médios dos financiamentos para pessoas físicas passaram de 45% ao ano ao final de 2003 para pouco menos de 35% em dezembro de 2009. Já o prazo médio das operações com recursos livres passou de pouco menos de 10 meses para 17 meses. Para ele, mesmo com essa evolução, a equação ainda torna o crédito caro. E, em sua opinião, deve provocar a desaceleração do ritmo de crescimento dos empréstimos já no ano que vem, sob o risco de surgir um gargalo nesse setor. “O crédito para pessoa física dobrou entre 2003 e 2009. Daqui para frente, se não houver alguma mudança institucional nesse setor, o crescimento vai desacelerar”, afirma.

A elevação da Selic, de 8,75% para 9,5% ao ano em maio, dando início a um novo ciclo de aperto monetário, agrava essa condição. Não só pelo custo, que fica naturalmente mais caro mesmo antes dos ajustes, como também pela iniciativa das instituições financeiras de encurtar ainda mais os prazos das operações. “A experiência mostra que juros altos com prazos longos provocam inadimplência na certa, há uma clara deterioração da carteira”, diz Marcos Magalhães, diretor do Itaú Unibanco. Mesmo que tal correção represente apenas centavos nas prestações dos empréstimos novos, o impacto é maior nos prazos mais longos, diz o economista-chefe da instituição, Ilan Goldfajn.