O efeito “Carnaval em março” deu um impulso às admissões no Brasil em fevereiro e surpreendeu analistas, que erraram nas projeções do mercado de trabalho para o mês. Antecipações de contratações e atividade aquecida para alguns setores em função da folia – que só veio no início deste mês em 2014 – resultou na geração de 260,8 mil novos postos de trabalho no mês passado (sem ajuste sazonal), marca 111% superior à de fevereiro de 2013 e bem acima do saldo de 120 mil novas vagas projetadas pela média dos especialistas ouvidos pelo Valor Data.
Os dados sem ajuste do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados ontem em Florianópolis pelo Ministério do Trabalho, mostram que o saldo do mês foi composto pelo registro de 1,989 milhão de contratações e 1,728 milhão de desligamentos. Serviços, com 143,3 mil vagas abertas, indústria de transformação (51,9 mil) e construção civil (25 mil) lideraram as admissões. No comércio, o Caged registrou saldo de 19,3 mil postos de trabalhos.
Fabio Romão, economista da LCA Consultores que havia projetado a abertura de 120,7 mil vagas em fevereiro, lembra de outros anos quando o Carnaval caiu em março para justificar o forte desempenho no mês passado. Aponta que o subsetor de alojamento e alimentação, composto sobretudo por hotéis e restaurantes, teve saldo de 36,3 mil contratações em fevereiro, um quarto de todas as admissões do setor de serviços.
“Em fevereiro de 2012, mês de Carnaval, esse subsetor contratou só 12,6 mil pessoas. Em fevereiro de 2011, quando o Carnaval caiu em março, foram 32,9 mil contratações. Não é uma coincidência, trata-se de antecipação de contratações na véspera da folia”, compara Romão, acrescentando que lógica parecida ocorreu no setor de comércio, que registrou 19,3 mil vagas abertas em fevereiro. “No ano passado, houve fechamento líquido de 10,4 mil vagas; em 2011, com Carnaval em março, foram 17,4 mil vagas abertas.”
A economista Priscilla Burity, do Banco Brasil Plural, disse que a dinâmica do Carnaval afeta os números do Caged. “As empresas não contratam tanto no mês de Carnaval, há uma dinâmica menos aquecida no mercado de trabalho”, diz.
Devido a essa dinâmica, Romão acredita que no mês que vem o Caged deverá passar por forte desaceleração em comparação com fevereiro, para um saldo de 80 mil empregos. “Foi assim em 2003 e 2011, os últimos anos em que o Carnaval caiu em março.” Segundo levantamento do economista, em fevereiro de 2003 o Caged teve saldo de 84 mil vagas criadas. Em março do mesmo ano, o saldo foi de 21 mil vagas. Na passagem de fevereiro para março de 2011, a queda no saldo foi de 281 mil para 93 mil.
Outro setor que chamou atenção no Caged foi a indústria de transformação, com quase 52 mil postos de trabalhos abertos em fevereiro. Romão associa o desempenho parcialmente ao Carnaval. “As indústrias têxtil e de alimentos vieram bem, com abertura de empregos na casa dos 18,7 mil. São produtos com demanda para o Carnaval. Mas outros setores industriais continuaram demitindo – o automotivo teve saldo negativo pelo quarto mês seguido”, diz Romão.
Para o ministro do Trabalho, Manoel Dias, os números de fevereiro de 2014 do Caged “são altamente favoráveis”. Ele reforçou que até o fim do ano a expectativa é superar 6 milhões de vagas abertas com carteira assinada nos quatro anos de administração da presidente Dilma Rousseff. Com os 260,8 mil empregos gerados no mês passado, o saldo de janeiro de 2011 até fevereiro de 2014 é de 4,792 milhões de vagas criadas.
Considerando os últimos 12 meses encerrados no mês passado, o Brasil gerou 1,157 milhão de empregos. O resultado é 10,7% superior ao verificado nos 12 meses terminados em janeiro de 2014, que indicavam a criação de 1,045 milhão de empregos. Ambos os dados utilizam a série histórica ajustada – com informações enviadas fora do prazo referentes ao período de março a janeiro, e números enviados apenas dentro do prazo referentes a fevereiro.