Mercedes diz que demissões são inevitáveis

A Mercedes-Benz distribuiu aos seus trabalhadores da unidade de São Bernardo comunicado, com três páginas, com a seguinte frase: “lamentavelmente a redução de nossa força de trabalho é inevitável e crucial para a sobrevivência da Mercedes-Benz do Brasil”. Em outras palavras, a montadora prevê demissões, mas não se manifestou em relação a prazos. O principal agravante para a situação é o mercado de caminhões, que tem apresentado resultados negativos.

O texto, assinado pelo presidente para o Brasil, Philipp Schiemer, e pelo principal executivo de recursos humanos para a América Latina, Fernando Fontes Garcia, destaca ainda que a fábrica, em busca de melhor eficiência e competitividade, tem mais trabalhadores do que suporta. Aproximadamente, a planta mantém hoje 12,5 mil funcionários. “Enfrentamos muitas dificuldades nos últimos anos, e desde 2012 temos suportado um excesso estrutural de pessoas, o que agrava ainda mais a nossa competitividade”, consta no documento. “As reduções no nosso programa de produção para 2014 e os riscos previstos no mercado indicam um excesso superior a 2.000 pessoas no segundo semestre deste ano”, aponta o comunicado.

Além disso, a empresa anunciou que a linha de produção de caminhões, que conta com aproximadamente 2.000 operários, terá redução de um turno a partir de 5 de maio. Neste caso, os funcionários serão colocados em período de licença remunerada. A Mercedes informou que está em negociação com o Sindicato dos Metalúrgicos do Grande ABC para definir o processo. Por isso, não detalhou o número de licenciados ou como será a remuneração deste contingente. Procurado, o sindicato disponibilizou porta-voz para comentar o assunto.

Conforme informações de funcionários da fábrica, entre os dois turnos da linha de produção de caminhões, a percepção é de que o período da manhã é aquele que concentra o maior número de trabalhadores.

Consta ainda no documento que a Mercedes anunciará, nos próximos dias, um PDV (Programa de Demissão Voluntária) para “todos os empregados”.

Além disso, a montadora descreve, por meio do texto entregue aos funcionários, que serão concedidas férias coletivas para a área de CKD, responsável pela recepção das peças que vão para a exportação. Questionada, a empresa não informou quantos funcionários se enquadram dentro desta seção.

Por fim, como medida indireta para a unidade de São Bernardo, a Mercedes dispensará os trabalhadores da planta de Minas Gerais por alguns dias. “Concessão de férias coletivas para a fábrica de Juiz de Fora no período de 22 de abril a 11 de maio, afetando a produção de agregados em São Bernardo”, aponta um dos tópicos do documento.

PROBLEMAS

Todas essas medidas são relacionadas a um período considerado como “crítico” pela Mercedes. A empresa cita, no comunicado, a crise econômica na Argentina, destino de 59% da exportação de caminhões produzidos em São Bernardo por todas as montadoras, o baixo crescimento do mercado brasileiro e a redução de compras no varejo como alguns dos principais problemas.

Ontem, a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) publicou dados de emplacamentos de caminhões. Em março houve queda, em relação a fevereiro, de 10,78%, com 9.337 licenciamentos. Na comparação com igual período do ano passado, a redução atinge 24,42%. Comparando os dois primeiros trimestres, o declínio chega a 11,23%.

A Mercedes cita ainda o fator concorrência, que tem transformado o mercado em uma “guerra de preços”, como outra influência para a decisão.

FORD

 A Ford também tomou providências para se proteger no cenário atual. Vai paralisar a linha de produção de caminhões, durante seis dias, entre amanhã e o dia 14. A montadora informou que 900 funcionários atuam na seção de caminhões de São Bernardo, que tem cerca de 4.500 trabalhadores. Mas não especificou se os operários ficarão de folga ou banco de horas.

Conforme o Diário publicou na edição de 26 de março, os funcionários da linha de produção de caminhões da Mercedes-Benz, em São Bernardo, estão com a semana reduzida para quatro dias de trabalho. A medida tem sido adotada desde a terceira semana de fevereiro. A ação, somada ao PDV (Programa de Demissão Voluntária), entre dezembro e janeiro, que foi aceito por cerca de 300 pessoas, e as férias coletivas do último mês de 2013, apenas contribuiu para sustentar a saúde da empresa no mercado no curto prazo.

Medidas em vigor remediam situação no curto prazo

O comunicado entregue aos funcionários aponta que o momento é para traçar o longo prazo. Assim, definir quais produtos serão fabricados em São Bernardo e avaliar investimentos e modernizações necessários. Em contrapartida, será importante identificar “quais são os sacrifícios” de redução de custos para ganhar “mais competitividade” no futuro. A empresa diz, no texto, que tudo é negociado com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que não tinha porta-voz disponível para falar sobre o assunto.