Alta acumulada em 12 meses até março é de 8,2% nas seis principais regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE; inflação do período foi de 6%
O avanço do salário nominal está menor nos últimos meses, mas ele ainda cresce acima da inflação. Nos 12 meses encerrados em março – último dado disponível -, a alta acumulada é de 8,2% nas seis regiões metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre) pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Brasil só não enfrenta um paradoxo com um salário nominal crescendo tanto num momento em que a economia dá sinais de desaceleração porque a inflação continua elevada. A expectativa do mercado expressa no boletim Focus, do Banco Central, divulgado segunda-feira, é de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerre o ano em 6,39%, enquanto o crescimento esperado para o Produto Interno Bruto (PIB) será de 1,69%, abaixo do avanço de 2,3% de 2013.
“Um cenário melhor do ponto de vista da estabilidade seria se o País tivesse uma inflação mais baixa, consequentemente um reajuste nominal menor, e mantivesse o patamar atual do ganho real dos salários”, diz Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). “O aumento do salário nominal reflete o que os trabalhadores estão pedindo.”
A inflação elevada mantém o salário nominal num nível alto e compromete o ganho real dos trabalhadores. No acumulado em 12 meses até março, o reajuste acima da inflação era de 2,2%, um resultado inferior ao do mesmo mês do ano passado, quando o aumento chegou a 3,5%. A retroalimentação entre aumento de preços e ganhos salariais acaba dificultando a queda da inflação no País, que se mantém distante do centro da meta do governo (4,5%). “Tanto a inflação elevada como o baixo crescimento estão dificultando os ganhos salariais”, afirma Rafael Bacciotti, economista da consultoria Tendências.
Ao longo dos últimos anos, a renda nominal já cresceu mais, mas também permaneceu em patamares mais baixos. Em maio de 2009, o crescimento acumulado em 12 meses chegou a 11,1%, enquanto entre abril e junho de 2010 aumentou 6,8%.
Os salários avançaram nos últimos anos por causa da forte expansão do mercado de trabalho. O crescimento econômico brasileiro aumentou a demanda por trabalhadores em setores que empregam mais mão de obra – como comércio e serviços -, o que causou um aquecimento no mercado de trabalho.
“Esses setores utilizam mais mão de obra do que a indústria, que deixou de crescer no Brasil”, diz Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Atualmente, o mercado de trabalho dá sinais de perda de fôlego, mas o desemprego ainda continua baixo – a desocupação em março foi de 5%, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, o menor nível para o mês desde o início da série histórica em 2002. “A taxa de desemprego continua baixa, mas não porque o emprego cresceu de maneira contundente. O emprego tem crescido pouco, e o que a gente tem visto é a saída de pessoas da força de trabalho”, diz Bacciotti.
Em 2014, o mercado de trabalho não deverá ser tão afetado pela desaceleração da economia. Dois fenômenos – a Copa e as eleições – devem ajudar a sustentar o emprego. “Com base na PME, a expectativa é que o mercado fique estagnado”, diz Barbosa Filho, do Ibre.