Denise Neumann | São Paulo
São muito ruins os dados do emprego formal na indústria de transformação divulgados pelo Ministério do Trabalho. No mês em que foi informada de que o governo tornaria permanente a desoneração da folha de pagamentos, e um mês antes de um novo pacote de apoio ao setor, a indústria de transformação fechou 28.533 vagas e esse movimento de demissões líquidas foi generalizado: 11 dos 12 subsetores de transformação cortaram vagas em maio.
Outro dado preocupante aparece no acumulado de 12 meses. Nesse período, o saldo positivo de vagas abertas na indústria é de apenas 3.618. Ou seja, o setor está prestes a perder estoque de vagas.
Embora generalizadas, as demissões foram – como em abril – bastante afetadas pela crise do setor automotivo. A indústria de material de transporte cortou 5.330 vagas, ampliando para 9.289 o número de postos de trabalho fechados no ano. A indústria mecânica cortou mais 6.664 vagas (haviam sido fechadas 4.583 em abril) e na indústria metalúrgica, o saldo de maio foi negativo em 4.023 empregos (2.147 cortados em abril).
Completam a lista de maiores demissões o setor de calçados (3,7 mil vagas a menos) e o setor de alimentação (4,8 mil cortes). No primeiro setor há alguma sazonalidade nas dispensas em função do fim da produção e entrega de coleção, mas elas foram além do normal. Em 2013, em maio, as demissões no setor somaram 1,9 mil vagas.
Com exceção do comércio (825 demissões líquidas), nos outros setores o emprego teve variação positiva em maio. Serviços e construção contrataram mais em maio deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. No caso de serviços, a preparação para a Copa parece ter ajudado bastante, pois o setor, que inclui alojamento e alimentação, abriu 11,8 mil vagas. Em maio do ano passado, havia fechado 5,3 mil vagas.
Como a notícia boa no emprego (setor de serviços puxado pelo subsetor de alojamento e alimentação) deve estar sendo impulsionada por um efeito temporário, o sinal que se acende no mercado de trabalho já não é amarelo. É vermelho e capaz de fazer estrago na campanha presidencial. Nada sugere que as demissões em abril e maio possam ser rapidamente revertidas. Pelo contrário. Assim como a produção da indústria pode impulsionar a demanda de outros setores, o inverso também acontece. Os ciclos de demissões normalmente começam por esse setor.