Greve do IBGE impede divulgação da taxa média de desemprego

Por causa da greve do IBGE, a pesquisa mensal de emprego do IBGE ficou comprometida e não será divulgada a média das seis regiões metropolitanas pesquisadas porque faltaram dados de Salvador e Porto Alegre.

Faltou, segundo o IBGE, tempo hábil para fazer a crítica e a análise dos dados, que foram coletados em campo. O IBGE projeta divulgar em breve, em data ainda não divulgada, os dados das duas regiões e a média das seis áreas.

A greve dos servidores do IBGE completou um mês nesta quinta-feira. Durante todo o período, a direção do IBGE disse que não teria prejuízo às pesquisas. O levantamento mensal de emprego foi o primeiro afetado.

O mesmo problema ocorreu em meados de 2012, também por conta da paralisação dos servidores.

O atraso na coleta dos dados da Pesquisa Mensal de Emprego reduz a qualidade da informação, segundo Cimar Azeredo Pereira, coordenador de Emprego e Rendimento do IBGE.

Isso porque o ideal é fazer a entrevista o mais perto possível da semana de referência, porque as pessoas podem se esquecer ou confundir se procuraram ou não emprego no período da pesquisa.

O prejuízo na coleta dos dados foi maior em Porto Alegre, onde o trabalho está em fase final. Em Salvador, a tarefa foi concluída, mas não houve tempo de analisar e conferir as informações.

Segundo Ana Magni, diretora da Assibge (sindicato da categoria), o movimento grevista tem crescido e mesmo com as ações da direção –que remaneja profissionais–, não foi possível divulgar os dados de Salvador e Porto Alegre, “com grande buracos na coleta dos dados e na análise”.

Ainda de acordo com ela, o fato ilustra “a deterioração e precarização” do trabalho no IBGE, que perde servidores ano a ano. Em 2007, eram cerca de 8.000 servidores próprios. Agora, o número é próximo a 6.000.

“Mais gente vai se aposentar, e não há um plano para repor esse pessoal.”

REGIÕES

Em São Paulo, a taxa de desemprego ficou em 5,1% em maio –numa patamar próximo do que havia sido em abril (5,2%). Em São Paulo, a renda caiu 0,2% de abril para maio. Na comparação com maio de 2013, houve alta de 1,7%.

Em Recife e em Belo Horizonte as taxas de desemprego subiram de abril para maio e ficaram em 7,2% e 3,8%, respectivamente. Em abril, os percentuais haviam sido de 6,3% e 3,6%, nessa ordem. Já no Rio de Janeiro, houve um ligeiro recuo –de 3,5% em abril para 3,4% em maio.

Em abril, a taxa média das seis regiões havia sido de 4,9%, o menor patamar para o mês desde o início de série histórica, iniciada em 2002. Para abril, especialistas esperavam uma taxa em torno de 5%.

Segundo analistas, a taxa de desemprego tem se mantido baixa nos primeiros meses de 2013 por causa da reduzida procura por trabalho e da ausência de dispensa de trabalhadores, fato comum para o período. Sazonalmente, há redução de vagas no início do ano.

A Copa do Mundo também teve seu impacto especialmente no ramo de turismo e hotelaria, que já começaram a contratar temporários em maio. Na construção civil, porém, já há registro de dispensas, com a conclusão das arenas.

O baixo nível do desemprego contrasta com um cenário de juros maiores, consumo em desaceleração, crédito escasso e menor confiança de empresários, que desemboca em um PIB fraco.

Um das hipóteses apontadas por analistas é que uma parcela da população formada especialmente por jovens e mulheres deixou de procurar trabalho em busca de oportunidades melhores ou para estudar. A situação se deu graças ao ganho de renda das famílias nos últimos anos.

NACIONAL

A taxa de desemprego em nível nacional, medida por uma nova pesquisa do IBGE feita a cada três meses –a Pnad Contínua, ficou em 7,1% no primeiro trimestre deste ano. O resultado para aquele período ficou acima dos 6,2% registrados nos três últimos meses de 2013.

De janeiro a março de 2013, o percentual havia sido maior: 8%.

A Pnad Contínua é primeira pesquisa do IBGE sobre mercado de trabalho em todo o país.

O IBGE diz que as duas pesquisas –a Pnad e a Pesquisa Mensal de Emprego– não são comparáveis, pois a Pnad tem uma abrangência maior e um questionário diferente.

Poucos são os analistas que preveem os dados da Pnad Contínua.

Entre os que fazem previsão, há expectativa de que haja uma aceleração da taxa neste ano, chegando a 8% na média de 2014 diante da menor oferta de trabalho e de uma retomada da procura por emprego, com o cenário de desaceleração da economia -revelado pelos dados do PIB do primeiro trimestre, que apontou um crescimento de 0,2% frente aos três últimos meses de 2013.

O IBGE não disponibilizou ainda os resultados do rendimento do trabalhador. A informação só será apresentada em 2015.

Na terça-feira (24), o Ministério do Trabalho divulgou que, em maio, foram criadas 58,8 mil vagas de emprego formal no país, o pior resultado para o mês em 22 anos.

GREVE

A categoria reivindica principalmente equiparação salarial aos servidores de outros órgãos, com o Ipea. A direção do IBGE também defende essa propostas. Mas o Ministério do Planejamento, ao qual o IBGE é vinculado, diz que não há possibilidade de mudanças salariais neste ano, citando que ainda está sob vigência um acordo ate 2015 com a categoria.

Na greve de 2012, que durou dois meses, ficou acertado um reajuste de 15%, escalonado em três anos.

Naquele ano, a pesquisa mensal de emprego, a mais complexa do instituto e com o maior número de pessoas entrevistadas, também divulgou dados parciais em junho e julho. As informações completas, com a taxa média de desemprego das seis regiões, foi divulgada em agosto.

Sindicalistas e a direção do IBGE discordam em outros pontos. Dentre eles, destacam-se a proposta de equiparação salarial de terceirizados e empregados próprios do instituto, a autonomia técnica (que a diretoria diz existir, mas a categoria contesta) e a chamada “gestão participativa” do órgão.

Para Magni, falta “alternância” e “participação” do quadro de funcionários na escolha de servidores para funções comissionadas, como as de coordenadores de áreas do IBGE e chefes das representações estaduais. “Existem pessoas que mantêm seus cargos há 30 anos. Existe algo errado.”

O IBGE, por sua vez, diz defender o preenchimento dos cargos por meio de “processo seletivo baseado no mérito”.

Magni também não vê empenho da direção na realização de concursos para repor trabalhadores que se aposentam. Diz que em 2007 o órgão tinha 7.000 servidores próprios. O número caiu para 5.700 neste ano.

O IBGE afirma que ingressaram neste ano 660 novos funcionários e foram solicitados ao ministério concursos para 1.044 vagas de nível médio e 520 de formação superior.

Sobre a equiparação entre concursados e trabalhadores temporários (usados na coleta de dados das pesquisas), o IBGE diz que “todos os benefícios previstos em lei” são garantidos aos terceirizados, mas que “uma equiparação salarial com os servidores efetivos de nível médio não é possível, visto que estes últimos têm atribuições e responsabilidades bem mais amplas.”

SALÁRIOS

No nível médio, o salário-base do instituto é R$ 3.160. O sindicato afirma que, no Ipea, a remuneração no mesmo nível é 69% maior, considerando salário-base inicial, sem gratificações por qualificação ou tempo de serviço.

Já nos cargos de nível superior, o salário-base é R$ 4.145,23, e o sindicato calcula que, no Ipea, a remuneração seja 69% superior. Nessa categoria, o salário pode chegar a R$ 8.949,03 (doutorado), sem contar adicionais por tempo de serviço e cargos comissionados.

De novembro de 2012, quando o Congresso aprovou o acordo com 24 categorias (inclusive o IBGE) para o reajuste de 15,8% parcelado em três anos, até maio deste ano o reajuste foi de 10,1%, segundo o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).