Ajuste na indústria já mostra folha de pagamento mais contida

Por Denise Neumann | São Paulo

Olhada no longo prazo, a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Pimes-IBGE), divulgada sexta-feira, mostra que o ajuste de pessoal no setor começou há quase três anos, ensaiou tímida reação há um ano, mas não resistiu. A novidade desse já meio de 2014 é que a correção no custo da folha de salários se intensificou, voltando para uma curva mais semelhante à do emprego.

Nos 12 meses encerrados em maio, no setor de transformação, a folha de pagamentos cresceu 0,8%, ritmo muito inferior à alta de 3,7% que acumulava em maio de 2013. Em parte, a folha de pagamentos começa a refletir a redução paulatina no emprego, iniciada ainda em 2012, e que ensaiou recuperação em meados do ano passado – quando abriu espaço para uma aceleração dos salários -, que não se sustentou. No acumulado em 12 meses, até maio, o nível de emprego estava 1,7% menor que em maio do ano passado, quando a queda era da mesma proporção (1,4%) sobre maio de 2012.

Além do emprego, o custo com a folha de salários também cresce menos porque o valor real do salário médio por trabalhador está subindo menos. Nos 12 meses encerrados em maio deste ano, o salário por trabalhador ainda era 2,7% maior que há um ano, mas em igual período até maio de 2013, o salário médio pago era 5,1% superior ao de maio de 2012 (sempre em 12 meses).

Pelos dados da pesquisa do IBGE, o ajuste do emprego industrial – que começou em abril deste ano nas estatísticas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) – começa mais claramente a fazer diferença no custo do setor. E principalmente para efeitos de competição externa (seja no Brasil com bens importados, seja na exportação), essa melhora ganha um reforço do câmbio.

Pela série do Banco Central, o custo unitário do trabalho em dólares (uma medida que mostra a evolução do custo de pessoal embutido na produção de uma unidade de produto, seja um carro, um sapato, uma tonelada de aço, por exemplo) nos primeiros cinco meses deste ano está 3,7% menor que em igual período do ano passado. Se esse custo for ponderado pela produtividade, ele melhora ainda mais.

Nos primeiros cinco meses deste ano, a produtividade do setor de transformação está 1,1% maior que em igual período do ano passado. É um ganho pequeno e feito da pior forma possível, apenas pela redução do emprego e das horas trabalhadas. Mesmo assim, revela que a indústria tem procurado minimizar os efeitos da queda de produção buscando redução de custos. E reflete, provavelmente, a reação de um setor que ficou, muito tempo, esperando a volta do crescimento.

Convencida, no entanto, que ele não virá no curto prazo, a indústria intensificou o ajuste. Esse deve ser apenas o começo, ou, no máximo, o meio dele, já que na pesquisa do IBGE o ajuste do emprego começou há dois anos. No começo ou no meio, mais dados negativos devem aparecer nos próximos meses.