Agosto não foi apenas um mês de forte queda nas vendas e produção de veículos, mas também de um agressivo corte nos postos de trabalho da indústria automobilística. Balanço divulgado ontem pela Anfavea, entidade que representa o setor, mostra que os fabricantes de veículos, junto com os de máquinas agrícolas, eliminaram 1,4 mil postos de trabalho no mês passado.
Isso eleva para 8,1 mil pessoas o número de demissões desde o início do ano, um choque comparável ao fechamento de quatro fábricas no país. Ao apresentar os números, o presidente da Anfavea, Luiz Moan, disse que a maioria desses trabalhadores saíram em programas de demissões voluntárias ou devido à não renovação de contratos temporários.
Ele também lembrou que as empresas estão adotando todas as ferramentas disponíveis para evitar demissões, como o afastamento temporário de metalúrgicos no regime conhecido como “layoff”. Moan, porém, defendeu a flexibilização no sistema de proteção ao emprego para momentos de crise como o atual.
A ocupação nas montadoras fechou agosto em 148,9 mil trabalhadores, no nível mais baixo em 27 meses. O fechamento de vagas neste ano equivale ao corte de 5% da mão de obra que as montadoras tinham em dezembro de 2013. Fora isso, outros 3,7 mil operários estão afastados da produção em esquema de “layoff”.
Contudo, Moan lembrou que a ocupação na indústria automobilística segue acima dos níveis de maio de 2012, quando o setor fechou o pacto de manutenção do emprego com o governo para receber descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O executivo reconheceu que os resultados de agosto ficaram abaixo das expectativas. Manteve, porém, as projeções de recuperação do mercado até o fim do ano.
Segundo o balanço da Anfavea, a produção de veículos no país caiu 22,4% no mês passado, frente a igual período de 2013. No total, 265,9 mil unidades foram produzidas em agosto, entre automóveis de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus.
Na comparação com julho, período afetado pela Copa do Mundo, houve alta de 5,3% na atividade do setor. A produção de veículos agora registra queda de 18% no acumulado do ano.
Já as vendas de veículos somaram 272,5 mil unidades no mês passado, queda de 17,2% em relação ao volume de um ano atrás. Na comparação com julho, houve redução de 7,6% nos emplacamentos, contrariando a expectativa de reação das vendas após os fracos resultados dos dois meses anteriores – afetados pelo menor fluxo de consumidores nas concessionárias por conta da Copa.
A queda do mercado no acumulado do ano, que estava em 8,6% até julho, alcançou 9,7% no fechamento do mês passado, somando 2,23 milhões de unidades. Também no acumulado até agosto, as exportações das montadoras, em volume, cederam 38,1%, para 235,4 mil veículos embarcados. O fraco desempenho se deve, principalmente, ao menor consumo de carros na Argentina, destino de quatro em cada cinco veículos exportados no Brasil. Restrições a produtos importados impostas pelo país vizinho nos primeiros meses do ano também contribuíram para a forte retração.
Outra notícia negativa divulgada ontem pela Anfavea foi o avanço dos estoques, agora em patamar equivalente a 42 dias de venda, após fechar julho em 39 dias.