Metalúrgicos e bancários esperam negociação salarial difícil este ano

Sindicatos não abrem mão de aumento acima da inflação e falam em greve

SÃO PAULO — Com a economia em recessão, a incerteza dos empresários com as eleições presidenciais e as demissões nas montadoras e bancos, a campanha salarial dos metalúrgicos e dos bancários, duas das maiores e mais organizadas categorias de trabalhadores do país, acontece num dos cenários mais adversos dos últimos anos e promete ser ainda mais dura do que em 2013. Aumento real de 2%, média obtida nos últimos dois anos, está em xeque. Mas, para os sindicatos, o ganho acima da inflação é ponto de honra. Eles já começaram a se mobilizar e prometem paralisações, repetindo a estratégia usada no ano passado.

A Federação dos Sindicatos dos Metalúrgicos da CUT de São Paulo, que representa 251 mil trabalhadores com data-base em setembro, recebeu das empresas proposta de aumento de 4,5%, índice que não repõe a inflação medida pelo Índice Nacional dos Preços ao Consumidor (INPC), que está em 6% nos últimos 12 meses. A pauta de reivindicações foi entregue em junho, mas não houve avanços. Hoje, haverá mais uma rodada de conversas com a indústria de autopeças.

8,1 MIL DEMITIDOS

Ligada à Força Sindical, a Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo, representante de 751 mil trabalhadores com data-base em novembro, entrega hoje sua pauta de reivindicações à Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). O percentual de reajuste ainda não está definido. A expectativa é de resistência para conceder aumento real.

— Será uma negociação das mais difíceis. Todos os anos, os empresários relutam, mas é preciso considerar que as indústrias tiveram benefícios tributários do governo. Para o trabalhador, não houve nenhuma garantia de manutenção dos empregos e muitos foram demitidos — diz Claudio Magrão, presidente da federação.

Os sindicalistas lembram que o setor automotivo já demitiu este ano cerca de 8,1 mil trabalhadores, sem contar os que estão afastados pela suspensão do contrato de trabalho (layoff), como os 930 funcionários da General Motors de São José dos Campos. Na prática, dizem os líderes sindicais, as montadoras já teriam ajustado seu quadro de funcionários ao cenário de vendas mais fracas.

Os metalúrgicos de sindicatos ligados à CUT do ABC e de Taubaté, em São Paulo, que negociam diretamente com as montadoras, já acertaram em 2013 o percentual de reajuste salarial deste ano. Em média, o ganho real fica em torno de 2%. Mas outros sindicalistas, que estão com as negociações abertas, criticam acordos de prazo mais longo.

BANCÁRIOS FALAM EM GREVE

Antonio Ferreira de Barros, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, que está em campanha com as cidades de Campinas, Limeira e Santos, representando 157 mil trabalhadores, diz que este acerto reduz a margem de ganho para os anos seguintes.

— Nem a situação de vendas mais fracas ou de eleição presidencial justifica deixar de dar aumento real ao trabalhador — diz ele, que luta por reajuste total de 12,98%, o que representa um ganho de 5,69% acima da inflação.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, diz que as montadoras remeteram US$ 3,3 bilhões às matrizes no exterior em 2013.

— A situação econômica está ruim, mas a crise não pode acabar apenas no colo dos trabalhadores. Sabemos que vamos ter dificuldades nas negociações, mas vamos buscar um ganho real — diz Torres.

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Os bancários, que são 500 mil no país e reivindicam aumento de 12,5% (ou 5,4% de ganho real), terão a quarta rodada de negociações com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) nesta semana. Se não chegarem a um acordo, prometem entrar em greve, segundo Carlos Cordeiro, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT):

— A negociação é sempre complicada, mas os lucros das empresas são os maiores de suas histórias.

Procuradas, a Fenaban, a Fiesp e o Sindipeças não quiseram comentar as negociações.