Diante de um mercado que segue sem dar sinais consistentes de recuperação, novas paradas de produção estão sendo programadas na indústria de veículos no próximo mês. No Paraná, a Renault, que já havia encerrado em julho o terceiro turno de trabalho na fábrica de São José dos Pinhais, voltará a dar em outubro dez dias de férias coletivas a 3 mil funcionários: 2,5 mil da linha de produção de carros e outros 500 do setor onde são produzidos os motores da montadora.
Férias coletivas na segunda quinzena de outubro também estão previstas na fábrica paranaense da Volkswagen – assim como a Renault, instalada em São José dos Pinhais – e na Mitsubishi, sediada em Catalão, no sul de Goiás.
No caso da Renault, as férias estão marcadas para o período de 13 a 22 de outubro, quando deixarão de ser produzidos cerca de 10 mil veículos – entre os modelos Sandero, Logan e Duster -, além de 12 mil motores. Mais do que a queda do consumo no mercado interno, a medida, justifica a montadora, se deve ao forte recuo nas exportações à Argentina, para onde a Renault costuma destinar algo ao redor de 20% de sua produção.
Na Volkswagen, as férias coletivas, segundo informa a empresa, serão dadas ao primeiro turno produtivo da fábrica de São José dos Pinhais entre meados de outubro até o início de novembro. O objetivo também é adequar a produção a um mercado menor.
Já em Catalão, conforme informações do sindicato local, as férias coletivas da Mitsubishi estão agendadas para o período de 14 a 24 de outubro, atingindo toda a linha de produção. Procurada pelo Valor, a marca japonesa, via assessoria de imprensa, confirmou o plano de dar férias no mês que vem, mas informou que ainda não há uma definição sobre o assunto. Segundo a empresa, tudo vai depender do comportamento do mercado.
Diferentemente da expectativa da Anfavea, a entidade das montadoras que projetou crescimento superior a 14% das vendas no segundo semestre – comparativamente ao fraco desempenho da primeira metade do ano -, os sinais de recuperação do mercado ainda são muito tímidos. Números preliminares mostram que o setor conseguiu, neste mês, estancar o aprofundamento da crise dos meses anteriores, quando os emplacamentos caíam a ritmo de dois dígitos.
Por enquanto, as vendas de veículos estão cerca de 1% abaixo de setembro de 2013 e 4,4% acima dos volumes de agosto. Mas o resultado tem sido beneficiado por um calendário comercial mais favorável, com um dia útil a mais de venda em ambas as comparações. Na média diária de licenciamentos – por volta de 12,5 mil carros de passeio e utilitários leves – setembro mostra-se, até o momento, tão fraco quanto os três meses anteriores.
E ainda que as vendas melhorem, a recuperação de demanda não tem efeito imediato na produção porque as fábricas precisam reduzir o excesso de estoques, que terminaram o mês passado em nível suficiente para 42 dias de venda. Além de férias coletivas, as montadoras afastaram trabalhadores, abriram programas de demissões voluntárias e vêm dando folgas a operários, com descontos em banco de horas, para ajustar a produção a esse cenário.
Na primeira semana deste mês, a Ford parou a produção em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Na semana seguinte, 930 operários da General Motors (GM) em São José dos Campos, no interior paulista, tiveram contratos de trabalho suspensos em regime de “layoff”, no qual os funcionários permanecem afastados da fábrica por até cinco meses. A mesma medida foi adotada na semana passada na fábrica inaugurada há cinco meses pela Nissan em Resende, no sul do Rio de Janeiro – nesse caso, envolvendo 279 trabalhadores.
Desde janeiro, 8,1 mil postos de trabalho foram eliminados nas montadoras brasileiras. Outros 4 mil operários estão afastados em “layoff”. As vendas de veículos acumulam, no ano, queda de 9%, considerando números preliminares de setembro. Até agosto, a produção das montadoras caiu 18%.