Era digital chega ao chão de fábrica como a quarta revolução industrial

Na indústria 4.0 a competitividade é vista como prioridade para fazer frente à concorrência internacional

Munique, Alemanha – Em plena era digital, a indústria não poderia ficar de fora. A mudança é tão intensa que os novos processos eletrônicos já são considerados como a quarta revolução industrial.

Depois da invenção das máquinas a vapor, que mecanizaram as atividades, do início da produção em série e dos processos de automatizados (robôs) na década de 70, a nova onda digital chega ao chão de fábrica e promete também criar uma nova ordem de transformação.

Como todas as outras revoluções, essa também deve moldar o futuro trazendo o conceito da indústria 4.0, na qual a competitividade é vista como prioridade para fazer frente à concorrência internacional. Segundo o chefe mundial de novas estratégias da Siemens, Horst J. Kayser, a nova onda aumenta não só a eficiência das empresas (reduzindo em até 40% os custos com energia), como também encurta o tempo de mercado (com lançamentos em menos tempo, cerca de 20% a menos), além de garantir maior flexibilidade, podendo fabricar diversos itens em uma única linha.

Para se fortalecer nesse segmento, um dos que mais cresce seguindo a tendência global, a Siemens trabalha com a premissa de que, depois da eletrificação e da automação, o caminho natural será digitalizar todo o processo de produção.

A fábrica do futuro já é considerada uma smart factory, por ser um paraíso de eficiência onde defeitos, perda de tempo e resíduos são coisas do passado. Nessas plantas, todo o gerenciamento da produção é feito em conjunto pela direção da fábrica e da área de tecnologia da informação, juntos em uma combinação perfeita de dados e de fabricação, dimensionando cada passo de cada máquina, cada corte, numa dança perfeita para entrega de produtos.

Dificuldades

A mudança, porém, não é simples. Tanto que hoje só avança na Alemanha, berço da engenharia industrial, e na China, onde o setor produtivo caminha a passos largos. Mas na opinião de Kayser países como o Brasil precisam apostar nisso, como forma de criar valor para sua produção e, assim, evitar futuros problemas como vem ocorrendo com a crise vivida pela indústria no País.

Atualmente, o setor produtivo é um dos mais afetados pela desaceleração da economia. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,2% no primeiro trimestre deste ano em relação aos três últimos meses de 2013. O ritmo piorou no segundo trimestre culminando na queda de 3,4% em relação ao mesmo período do ano passado.

Dessa forma, a participação da indústria de transformação no PIB nacional caiu dos cerca de 27% na década de 80 para os atuais 13%, o que indica que algo precisa ser feito para provocar uma mudança urgente, elevando sua competitividade com a implementação da visão da indústria do futuro.

Isso, aliás, é o que está sendo feito pelos Estados Unidos, que vêm acompanhando de perto essa mudança na produção e deve investir como forma de fortalecer sua indústria novamente, num processo de reindustrialização do país, segundo o executivo.

A digitalização da produção se encontra com o que os especialistas em tecnologia denominam de internet das coisas. A ideia é que, cada vez mais, o mundo físico e o digital se tornem um só, através de dispositivos que se comuniquem com os outros, os data centers e suas nuvens. Com isso, as máquinas vão estar interligadas num sistema e gerenciamento inteligente que tornará todo o processo com menos falhas.

Investimentos

Estima-se que mais de US$ 13 bilhões serão investidos nas próximas décadas para a modernização da indústria em todo mundo. Mas o caminho é considerado inevitável, devido à sua eficiência. O melhor exemplo disso foi da Alemanha, que vem conseguindo driblar a crise mundial e se sair bem no cenário global, graças, principalmente, por ter se mantido como uma potência em inovação industrial.

Alguns estudos apontam que a Europa deveria investir cerca de 90 bilhões de euro por ano em digitalização nos próximos 15 anos para que ela se mantenha a frente e competitiva, garantindo sua posição e agregando valor ao processo.

A boa notícia é que todo este investimento traria, em contrapartida, níveis mais elevados de rentabilidade.

No Brasil, os novos conceitos já começam a ser testado em setores como automotivo e aeroespacial e reduz em mais de 50% o tempo de produção, de acordo com a companhia.

Por toda essa mudança que se anuncia, a Siemens, uma das maiores empresas no ramo de automação industrial está se reorganizando estrategicamente para aprofundar ainda mais sua atuação nessa área, onde já se tornou referência.

Realinhamento

Em seu plano estratégico global para os próximos cinco anos, a empresa alemã acertou seu posicionamento em setores como a eletrificação, automação e digitalização. A partir de 1 de outubro, a companhia terá entre suas principais divisões a da “fábrica digital”, como um realinhamento global.