Objetivo da medida é esvaziar pátio das montadoras e estimular a economia
POR GERALDA DOCA
BRASÍLIA – Para estimular o setor automotivo e evitar demissões, a equipe econômica estuda, como medida emergencial, zerar o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos até 31 de dezembro. O imposto — que já foi zerado em 2012 e parcialmente recomposto — tem alíquota de 3% para automóveis de até mil cilindradas e utilitários, 9% para veículos de até duas mil cilindradas (flex), e 10% para carros de duas mil cilindradas (gasolina). De acordo com a proposta em análise, o imposto seria recomposto a partir de janeiro de 2015. O objetivo da medida é impulsionar as vendas neste fim de ano e ajudar o setor a desovar um estoque de 404,5 mil unidades, nas concessionárias e fábricas. O efeito psicológico da alíquota zero pode ajudar nessa estratégia, avaliam os técnicos.
Segundo uma fonte da área econômica, o impacto na arrecadação não é relevante, porque o IPI cobrado atualmente já representa a metade das alíquotas nos segmentos beneficiados. Diante da demora na recuperação nas vendas de veículos novos, as montadoras pressionam para manter o imposto reduzido por mais tempo. A previsão inicial do governo era recompor o imposto integralmente, a partir de janeiro. Dessa forma, o IPI sobre carros de até mil cilindradas, por exemplo, seria elevado para 7%, mas a fragilidade do setor deve resultar em uma recomposição escalonada.
No discurso após a vitória na urnas no domingo, a presidente reeleita Dima Rousseff prometeu medidas pontuais para estimular a economia. O setor automotivo é considerado estratégico pelo tamanho da cadeia produtiva e participação no Produto Interno Bruto (PIB) industrial. Os bancos públicos foram orientados a concentrar esforços a fim de aumentar a concessão no crédito para veículos, com taxas reduzidas até o fim do ano.
VENDAS ACUMULAM QUEDA DE 4,4% ATÉ SETEMBRO
Na avaliação do governo, os efeitos das medidas de estímulo ao setor, anunciadas em agosto, com maior liberação de recursos para os bancos ainda são tímidos, sobretudo no financiamento de carros novos. De acordo com cálculos da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), a meta do setor de vender 310 mil unidades em outubro, ou 13,5 mil por dia, dificilmente será alcançada. Entre os dias 1º e 29 deste mês, foram licenciados 266,5 mil veículos, o equivalente à venda diária de 12,7 mil. Caso o volume de vendas atinja 292 mil unidades no fechamento do mês, o crescimento em relação a setembro, quando foram comercializados 282,8 mil, será de apenas 3%.
Os dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostram que o estoque de unidades subiu de 385,7 mil em agosto para 404,5 mil em setembro. As vendas no mês passado subiram 8,7% em relação ao mês anterior, mas no acumulado de janeiro e setembro, a queda é de 4,4%. O presidente da Anfavea, Luiz Moan, esteve nesta semana no Ministério da Fazenda e, na saída, disse ter discutido questões conjunturais do setor.