As negociações das principais categorias apontam para injeção de 30% extra da massa salarial até o final de 2010. Segundo cálculos do Brasil Econômico, isso representa mais R$ 10 bilhões na economia.
Os trabalhadores da construção civil foram os primeiros da fila: conseguiram um reajuste salarial de 8%, que está em vigor desde 1º de maio e que representa um aumento real de 2,4%, além da inflação.
Mas ainda faltam os metalúrgicos, os comerciários e os bancários, para citar outras três categorias que apenas começaram a negociar quanto terão de reajuste salarial a partir do segundo semestre deste ano.
Se cada uma delas, numa estimativa conservadora, conseguir repor a inflação e obter 1% de reajuste real no salário, significa que serão injetados cerca de R$ 1,6 bilhão por mês na economia até o final do ano.
A projeção foi calculada pelo Brasil Econômico e levou em consideração qual seria o impacto de uma reposição inflacionária sobre o rendimento médio real dos trabalhadores no mês de abril, calculado pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Só nos primeiros quatro meses do ano, também com base em dados do IBGE, já foram injetados R$ 2 bilhões na economia – fruto do aumento médio da renda registrado no período, mais os salários que são resultado das novas contratações. Mas é importante levar em consideração que boa parte dos dissídios entra em vigor no final de terceiro trimestre – o dissídio dos bancários, por exemplo, é a partir de 1º de setembro.
Em 2009, de acordo com o Dieese, 80% das negociações salariais realizadas por 692 categorias de trabalhadores brasileiros – ou 553 instrumentos firmados – conquistaram aumento real de salários e outros 88 (quase 13% do total) asseguraram, no mínimo, a reposição da inflação com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do IBGE.
Os reajustes salariais foram pouco afetados pela crise econômica internacional deflagrada nos últimos meses de 2008. Mesmo com o Produto Interno Bruto (PIB) apresentando variação negativa de -0,2% – fruto do desaquecimento econômico do último trimestre de 2008 e dos primeiros meses de 2009 – a proporção de categorias com reajustes salariais no mínimo equivalentes ao INPC-IBGE atingiu 93%.
“Foi a sexta vez consecutiva que no mínimo 80% das categorias conquistaram reajustes em percentual no mínimo igual à inflação oficial”, afirma José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de Relações Sindicais do Dieese.
Ele lembra que há duas variáveis importantes nas negociações. Do lado positivo, temos um PIB forte, crescendo a cerca de 6%, maior do que no ano passado, quando houve recuo de 0,2%. Mas do negativo, a inflação também deve ser um pouco mais elevada que no ano passado.
“Mesmo assim, o primeiro fator deve pesar mais que o segundo, então acredito que em 2010 a tendência seja que tenhamos mais categorias com ganho real, que deve ficar acima dos cerca de 1,5% do ano passado”, conclui.
Projeção para 2011
O impacto dos reajustes salariais na economia e consumo virá, de fato, a partir de 2011. Considerando os reajustes já efetuados e os que poderão vir, a estimativa é que a partir de dezembro de 2010 sejam injetados cerca de R$ 21,6 bilhões extras – isso sem considerar novas contratações.
Se a geração de novos postos de trabalho seguir no mesmo ritmo da média dos últimos 12 meses, devem ser injetados pelo menos R$ 12 bilhões na economia ao longo do ano que vem – considerando que sejam contratados mais 670 mil trabalhadores até dezembro de 2010.
Seriam R$ 31,6 bilhões a mais para estimular o consumo, o crescimento e, elevar as pressões sobre a inflação
Elaine Cotta e Carla Jimenez
Fonte: Jornal Brasil economico, 15/06/2010