Indústria admite jornada menor em alguns setores

Para CNI, nem todos os ramos de atividade suportariam a medida

ERIC FUJITA

Na queda de braço entre patrões e empregados em torno de uma jornada menor, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) admite a proposta de reduzir de 44 para 40 horas semanais, sem corte nos salários, para alguns setores produtivos do país — sem especificar quais. Para a entidade, a medida deve ser aplicada em segmentos ou regiões que suportem essa diminuição. O objetivo é evitar possíveis prejuízos nas empresas.

A ideia foi apresentada pelo presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, em visita a São Paulo, na semana passada. Ele, no entanto, repudiou a adoção da jornada menor para todos os 39 milhões de trabalhadores no Brasil, como as centrais sindicais reivindicam. Para Andrade, nem todos os ramos conseguiriam aderir à redução.

 “O corte (da jornada) precisa ser feito conforme a realidade de cada setor. Nem todos conseguem se adaptar a isso sem um aumento dos custos de produção”, justificou. Andrade destacou ainda que a diminuição das horas trabalhadas precisa ser negociada diretamente entre esses segmentos e os respectivos sindicatos da categoria.

Por outro lado, o presidente da CNI evitou comentar se aceitaria ou não negociar uma proposta da Câmara dos Deputados, de reduzir a jornada para 42 horas semanais, de forma gradativa até 2012. “Se esse corte ocorrer para todos, será um tiro no pé dos próprios trabalhadores, pois muitas empresas vão automatizar ainda mais o processo produtivo para deixar de contratar.”

As principais centrais sindicais criticaram a proposta da CNI. O secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Quintino Marques Severo, considerou a ideia contraditória. “A CNI defende a negociação direta por setores, mas as categorias já tentaram isso e, muitas delas, se recusam a conversar”, rebateu.

Para o presidente interino da Força Sindical, Miguel Torres, é necessário reduzir a jornada para todos os trabalhadores. “Isso aconteceu com a Constituição de 1988 e as empresas não quebraram como alegavam. Além disso, a medida gera empregos”, afirmou, ao se referir à pesquisa feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O levantamento aponta que a diminuição para 40 horas criará 2,4 milhões de vagas.