Patrícia Duarte e Aguinaldo Novo
Taxa vai para 10,75%. Para alguns analistas, foi o último aumento deste ano
Com uma mudança de postura considerada repentina por parte dos analistas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a taxa básica de juros Selic em apenas meio ponto percentual ontem, para 10,75% ao ano. A maioria dos analistas acreditava numa puxada maior, de 0,75 ponto, como ocorreu nas duas últimas reuniões, em abril e junho. Agora, alguns economistas já acreditam que o atual ciclo de aperto monetário pode ter chegado ao fim.
Até dezembro, o Copom se reúne ainda mais três vezes.
— Acho que não haverá mais aumento na Selic (neste ano).
Com o comunicado, o BC dá sinal muito claro de que percepção de risco
inflacionário reduziu muito — afirmou o economista-chefe do WestLB, Roberto
Padovani.
Em decisão unânime, o comitê citou melhora nos cenários internos e externos. O comunicado informou que, “considerando o processo de redução de riscos para o cenário inflacionário que se configura desde a última reunião do Copom (em junho), e que se deve à evolução recente de fatores domésticos e externos, o comitê entende que a decisão (de ontem) irá contribuir para intensificar esse processo”.
Brasil se isola na liderança de maior juro real do mundo
Na última semana, o BC deu sinais de que estava disposto a afrouxar o ajuste monetário. Um deles foi o fato de o presidente do banco, Henrique Meirelles, por dois dias seguidos, ter feito questão de frisar que o Copom levaria em consideração todos os indicadores econômicos que sairiam até ontem. Normalmente, Meirelles não gosta de dar entrevistas nos dias que antecedem a reunião do Copom.
Os indicadores atuais mostram uma acomodação tanto da atividade econômica quanto da inflação. Segundo um índice do próprio BC, que estima o crescimento da economia, o país teria parado de crescer em maio.
Contou ainda a divulgação, anteontem, do IPCA-15 de julho, uma prévia do índice cheio usado nas metas de inflação, que ficou negativo em 0,09%.
— Mas é muito cedo para comemorar. Os preços dos alimentos caíram agora para acomodar as fortes altas do início do ano e devem voltar a normalidade a partir de agosto — afirmou o economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles, que esperava uma alta de 0,75 ponto na Selic ontem.
Com a nova alta da Selic, o Brasil se isolou na ponta do ranking dos países com as maiores taxas de juros reais. Compilação feita por Jason Vieira, da Cruzeiro
do Sul Corretora, apontou o Brasil com uma taxa de 5,6%, descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses.
Na segunda posição, aparece a China, com 2,3%, enquanto a Rússia apresenta 1,8%.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) afirmou que a decisão do Copom foi “na contramão da realidade econômica”. A Fiesp diz que o Copom teria cedido ao “barulho ensurdecer das vuvuzelas do mercado”.
— O Brasil não pode continuar entre os campeões mundiais das maiores taxas de juros — afirmou o presidente em exercício da Fiesp, João Guilherme Sabino
Ometto.
Para a Força Sindical, o novo aumento da Selic foi “nefasto para o setor
produtivo”.
— Lamentamos profundamente que o Brasil esteja virando um paraíso para os
especuladores — disse o presidente em exercício da central, Miguel Torres.
A alta da Selic terá impacto nos juros cobrados ao consumidor.
Estimativa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anafec) mostra que as taxas cobradas por bancos, financeiras e varejo pode subir até 0,58 ponto percentual. O juro médio subiria de 6,9% ao mês para 6,94% (ou 123,71% ao ano).
Ontem, o BC informou que o fluxo cambial — entrada e saída de moeda estrangeira do país — continuou no vermelho na semana passada. Entre os dias 1º e 16 de julho, o saldo estava negativo em US$ 2,031 bilhões, acima da saída líquida de US$ 1,237 bilhão da primeira semana deste mês. No ano, o superávit acumulado, por causa disso, foi reduzido para US$ 1,332 bilhão.