Sindicatos esperam ganhos maiores

Os ganhos salariais recordes do primeiro semestre devem se ampliar nos últimos meses de 2010. “A tendência é que os acordos realizados no segundo semestre superem os ótimos resultados do primeiro semestre. A hora para demandar mais salário é agora, porque a atividade está aquecida e a inflação em queda”, disse ao Valor José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Dieese. Ontem, a entidade divulgou que 97% dos sindicatos com data-base nos primeiros seis meses do ano conquistaram reajustes salariais iguais ou superiores à inflação, o maior percentual desde 1996, quando o Dieese iniciou sua série histórica. As categorias com data-base neste segundo semestre não perderam tempo.

“Estamos quase fechando um dos nossos melhores acordos, com reajuste real de 3%”, diz Atenágoras Lopes, diretor do sindicato dos trabalhadores da construção civil de Belém (PA). Entre os 124 sindicatos que representam trabalhadores da indústria e construção, a maior parte, equivalente a 10,7%, pertence a trabalhadores da construção civil. “É a categoria que mais ganha força no meio sindical”, diz Lopes. Segundo o levantamento do Dieese, todos os sindicatos do setor com data-base entre janeiro e junho conquistaram reajustes iguais ou superiores à inflação – no ano passado, 9,7% dos sindicatos não conseguiram.

O segundo semestre concentra a data-base de categorias importantes, como petroleiros, metalúrgicos e bancários. A campanha salarial dos quase 250 mil metalúrgicos representados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) em São Paulo cobra elevação real igual ao valor acumulado em 12 meses do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que deve fechar o mês de agosto em torno de 4,5% – assim, os metalúrgicos negociam reajuste nominal de 9%.

“Queremos ganhar o dobro da inflação, algo perfeitamente possível em ano de crescimento acelerado, puxado, principalmente, pela indústria automobilística”, diz Michele Ida Ciciliato, diretora do sindicato dos metalúrgicos de Taubaté e da Federação dos Metalúrgicos (FEM-CUT). A ideia, afirmou a sindicalista ao Valor, é “desincentivar o abono”, uma vez que este “não é incorporado aos salários”. No ano passado, como forma de complementar o reajuste real de 2%, os metalúrgicos da CUT negociaram abono de R$ 2,8 mil.

Para Silvestre, além da forte elevação do PIB, o grande impulsionador das negociações sindicais tem sido o avanço do salário mínimo. “Isso dá aos sindicalistas um poder de barganha enorme.” (JV)