Atraso de obras da Petrobras leva trabalhadores à rua

Com o avanço da Operação Lava Jato e a crise financeira da estatal, obras foram paralisadas e trabalhadores sofrem com atrasos de salário e demissões que se espalham por todo o país

Sintepav

A marcha de 200 trabalhadores em protesto inédito pela Ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro, na última terça-feira escancarou para a população o drama vivido por milhares de trabalhadores contratados para atuar em obras da Petrobras. Enquanto acionistas recorrem à Justiça para tentar recuperar as perdas com a queda das ações da companhia, os empregados de fornecedoras da estatal já começam a sentir no bolso os estragos provocados pela descoberta de um esquema de corrupção em contratos da companhia. Com o avanço das investigações, obras foram paralisadas e multiplicam-se demissões e atrasos no pagamento de salários.

Na quinta-feira, foi a vez dos metalúrgicos gaúchos saírem às ruas e bloquear a BR-392, que liga Pelotas a Rio Grande, para protestar. Município do Sul do país com os maiores investimentos da Petrobras, Rio Grande vive forte clima de tensão desde que as quatro empresas que gerenciam os estaleiros do Porto Naval passaram a ser alvo da Polícia Federal em função de denúncias de corrupção. Os trabalhadores temem que as investigações paralisem os contratos da estatal e esvaziem a zona industrial da região.

Há pouco mais de dois meses, a rescisão de contrato da Petrobras com a empresa Iesa Óleo & Gás provocou a demissão de mil trabalhadores em Charqueadas, cidade vizinha a Rio Grande. “Do jeito que a Petrobras está amarrada, haverá mais desemprego”, declara Jairo Carneiro, presidente da Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul (FTMRS).

“Como os contratos estão trancados com a Lava Jato, a Petrobras não deve cumprir com os pagamentos e as empresas terão dificuldades de manter os profissionais. Queremos que o Polo de Jacuí funcione, que as licitações sejam retomadas. Sabemos da prisão de diretores, mas as empresas devem continuar a funcionar, senão haverá consequências aos metalúrgicos de toda a cadeia”, completa Carneiro, que teme que a crise política leve a Petrobras, também, a transferir para companhias estrangeiras os contratos de construção de plataformas, até então realizados no Polo Naval.

No Rio de Janeiro, cerca de 2,5 mil empregados da Alumini Engenharia, uma das 11 empresas que atuam nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, estão sem receber os salários desde dezembro e o abono de Natal. Além desses, outros 469 empregados demitidos ainda estão esperando o salário de novembro, a segunda parcela do 13º, férias e verbas rescisórias, segundo o Sindicato dos Trabalhadores Empregados nas Empresas de Montagem e Manutenção Industrial da Cidade de Itaboraí (Sintramon).

A Alumini Engenharia alega que está sendo impedida pela Petrobras de dar continuidade aos trabalhos após o não pagamento de aditivos contratuais que somariam mais de R$ 1,2 bilhão, além de “romper o contrato unilateralmente”. Já a estatal defende que sempre esteve em dia com as obrigações em todos os contratos.

O jogo de empurra entre as empresas também faz reféns os trabalhadores de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul. A construção da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN-3) da Petrobras no município era de responsabilidade do Consórcio UFN-3, formado pela empresa chinesa Sinopec e a brasileira Galvão Engenharia. A obra foi paralisada após a rescisão por descumprimento do contrato, segundo a Petrobras. Com o fim do acordo, milhares de operários foram desligados.

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil Pesada de Três Lagoas (Sintiespav-MS), Nivaldo Moreira conta que a obra chegou a mobilizar 8 mil trabalhadores, mas as demissões foram avançando em compasso com a Operação Lava Jato. “O consórcio alega que a Petrobras teria parado de fazer os repasses em função da Lava Jato e que, por isso, as empresas foram obrigadas a demitir. Mas a Petrobras nega”.

O Ministério Público do Trabalho teria tentado tirar a história a limpo, mas a estatal não compareceu ao encontro com representante do consórcio, afirma Moreira. “O trabalhador não pode ficar no meio desse impasse”, desabafa ele, destacando que, por meio da intervenção da Justiça do Trabalho, 2.670 profissionais já receberam ou estão por receber seus direitos. “Ainda resta ajustar os pagamentos de outros 140”, lembra.

Na Bahia, a prisão de executivos que controlam o estaleiro Enseada do Paraguaçu suspendeu a construção de plataformas de petróleo e seis navios sonda para perfuração em campos do pré-sal. Dos 7.200 trabalhadores que operavam na implantação da estrutura até meados do ano passado, cerca de 5.700 foram demitidos, de acordo com o Sindicato da Construção Pesada e Montagem da Bahia.

Em Pernambuco, mais de 300 trabalhadores do Consórcio Coeg, um dos contratados para as obras na Refinaria Abreu e Lima, no município de Ipojuca, demitidos em dezembro ainda não receberam as indenizações trabalhistas. Enquanto isso, operários que continuam trabalhando no canteiro de obras reclamam de atrasos no pagamento dos salários de dezembro e da segunda parcela do décimo terceiro salário, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de Pernambuco.