Os dados de aumento de produtividade em 2010 indicam que a indústria acumulou folga para conceder aumentos reais de salário em 2010, sem a necessidade de aumentar preços para incorporar o custo extra na folha de pagamentos. Por outro lado, se uma expressiva fatia dos acordos sindicais deste segundo semestre seguir a mesma tendência de aumento real conquistado por metalúrgicos (4,5%), a massa salarial pode ter um crescimento alto em um prazo muito curto de tempo, esse sim um movimento que pode culminar em pressões inflacionárias.
A indústria de transformação produziu 15% mais no acumulado de janeiro a julho deste ano em relação a igual período de 2009. Essa produção foi alcançada com um volume apenas 3,8% maior de horas pagas, segundo dados de duas pesquisas diferentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em contas simples, esse aumento da produção com menos horas representa um aumento de 10,7% na produtividade do trabalho na indústria.
Essa é a conta mais simples possível e, por isso, falha. Parte deste aumento de produtividade pode ser absolutamente verdadeiro e decorrer, por exemplo, da incorporação de novas máquinas mais eficientes na linha de produção; outra parcela pode vir da agregação de mais insumos importados, substituindo parte da produção antes feita no Brasil. O primeiro elemento (máquina) está representado na conta que mostra o ganho de quase 11% de produtividade na indústria; a segunda, do efeito substituição de parte da produção por insumo terceirizado, não.
Mesmo falha, contudo, a conta indica o caminho correto e ele aponta a melhora da eficiência da indústria no pós-crise. Os dados de investimento produtivo e de crescimento mais suave no uso de utilização da capacidade instalada reforçam a tese de que a indústria brasileira saiu da crise mais eficiente. Quando a produtividade é comparada com o salário médio real (ou folha de pagamento média real na nomenclatura do IBGE), em apenas um dos 16 setores analisados os salários subiram acima da eficiência. Na média, o salário médio real foi 2,7% maior nos primeiros sete meses deste ano em relação a igual período do ano passado. Só em minerais não metálicos os salários subiram mais (6,17%) que a produtividade (5,4%).
O problema para a inflação, portanto, pode ser outro e não a necessidade da indústria reajustar preços para compensar o aumento dos custos com a folha salarial. O aumento real de renda pode abrir espaço para aumentos especulativos de preços. O salário médio dos metalúrgicos já contemplados com aumento salarial de 9% varia de R$ 3 mil a R$ 3,4 mil (considerando horas extras e adicionais).