Menos vagas
Março pode ter fechado com alta no desemprego, o que não acontecia desde 2009 no mês. Segmentos automotivo e de telecomunicações estão entre os mais afetados
por Cadu Caldas
do ZH Notícias
Último troféu do governo na área econômica, o baixo índice de desemprego ameaça cair da estante com o grande número de demissões anunciadas nos primeiros meses do ano no país. Em março, período em que o mercado de trabalho começa a ganhar potência, após o ritmo mais lento de janeiro e fevereiro, a economia parece ter colocado o pé no freio e acionado a marcha a ré.
Grandes empresas têm dispensado funcionários ou suspendido contratos de trabalho em diferentes Estados para tentar não parar de vez em meio ao motor cada vez mais lento da economia. Dados sobre o mercado de trabalho no terceiro mês do ano ainda não foram consolidados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas indicadores prévios apontam que o nível de desemprego apurado em seis regiões metropolitanas do país deve continuar crescendo.
Projeção da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) estima que a desocupação alcance 6,2%, ante 5,9% de fevereiro. Olhando apenas março, o mês pode apresentar a primeira alta no desemprego, o que não ocorria desde 2009.
Não é o único sinal de que as coisas não andam bem. O recuo na produção industrial e no rendimento médio real dos ocupados em fevereiro indica que o primeiro trimestre do ano está comprometido, avalia Anselmo Santos, professor do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho do Instituto de Economia da Unicamp.
— Foi o último vagão a sair dos trilhos. Com os resultados dos últimos meses, fica nítido que a desaceleração chegou ao trabalho. É algo preocupante porque, para aumentar vagas, é preciso que o empresariado tenha confiança no futuro, e ele já está olhando para 2017.
Montadoras esperam retomada no 2º semestre
Entre os setores mais atingidos até o momento, estão telecomunicações e indústria automobilística. O processo de fusão entre as empresas de telefonia e a contração da economia já resultaram na demissão de ao menos 3,7 mil funcionários da Telefônica/Vivo, Nextel e Oi em todo o país. Com a compra da GVT pela Telefônica, analistas já estimam que os cortes possam chegar a 5 mil nos próximos meses. As empresas não confirmam.
Montadoras e demais empresas no setor automobilístico passam por situação semelhante. A Pirelli negocia suspensão de contratos de trabalho de 1,5 mil funcionários. Das 20 fabricantes de automóveis, comerciais leves e caminhões instaladas no país, mais da metade anunciou alguma medida para reduzir a velocidade de produção, como corte de turno, concessão de férias coletivas e plano de demissão voluntária.
Para o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, a crise é “pontual” e, após enfrentar um primeiro trimestre extremamente difícil, o setor pode ter uma retomada no segundo semestre. Para ajustar as contas públicas, o governo reduziu os incentivos às empresas. Com o agravamento da crise, ensaia um passo atrás. Na semana passada, em uma reunião da Anfavea com a presidente Dilma Rousseff, ficou acertada a criação de um grupo para estudar um programa de renovação da frota de caminhões.
O setor de comércio e serviços, que sustentou até aqui boa parte do crescimento do emprego, também demonstra sinais de fraqueza, ressalta José Pastore, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP).
— Com a elevação do juro e a redução do crédito rondando o país, os consumidores estão mais retraídos e tudo indica que, sozinho, esse setor não terá condições de segurar a pujança no mercado de trabalho — acrescenta.
Mapa dos desligamentos
Março foi marcado por demissões em massa e suspensão de contratos de Norte a Sul
MARANHÃO
Uma das maiores produtoras de alumínio do mundo, a Alcoa anunciou corte de produção no Brasil, com a demissão de 650 funcionários na unidade de São Luís, no Maranhão. Com isso, a companhia deixa de produzir no país o alumínio primário, que serve de base para produtos como esquadrias para construção civil e insumos de automóveis.
PERNAMBUCO
O Estaleiro Atlântico Sul iniciou um programa de demissão em massa que vai dispensar 2,4 mil pessoas. A medida é consequência do rompimento do contrato entre o estaleiro e a Sete Brasil, empresa formada pela Petrobras e sócios privados para administrar o aluguel de sondas para o pré-sal.
BAHIA
Envolvida na Operação Lava Jato e com sérios problemas de caixa, a Galvão Engenharia demitiu 700 funcionários que trabalhavam nas cidades de Manuel Votorino, Jequié, Itagi e Aiquarara.
MINAS GERAIS
Fabricante de autopeças, a Delphi, situada em Itabirito, na região central do Estado, fechou as portas e dispensou 800 trabalhadores. A companhia, que tinha a Fiat como principal cliente, sentiu os impactos da desaceleração econômica que afetou a montadora.
RIO DE JANEIRO
A empresa de telefonia Oi está eliminando 1.070 postos de trabalho — 6% do quadro de funcionários. O Estado mais afetado pelos cortes será o Rio de Janeiro, onde fica a sede do grupo.
A construtora Queiroz Galvão demitiu 70 funcionários e colocou outros 500 operários em aviso prévio.
SÃO PAULO
A Ford dispensou 140 funcionários que estavam com contratos de trabalho suspensos (layoff) na unidade de Taubaté (SP) no dia 31. Segundo a montadora, as medidas têm como objetivo adequar a produção à demanda do mercado.
Na mesma cidade, a Volkswagen colocou 4,2 mil funcionários — praticamente todo efetivo da fábrica — em férias coletivas a partir do dia 30 de março e suspendeu os contratos de 250 trabalhadores.
A GM também anunciou em março um programa de demissão voluntária (PDV) para a unidade de São Caetano. A montadora mantém desde novembro 950 trabalhadores afastados de suas funções, o chamado layoff.
A Mercedes-Benz também abriu um PDV em sua fábrica de caminhões e ônibus, em São Bernardo do Campo.
Cerca de 90 funcionários da Gerdau em Pindamonhangaba (SP) foram demitidos da unidade em março segundo Sindicato dos Metalúrgicos. A Gerdau afirma que vai reduzir temporariamente a produção de aço na cidade, ajustando o quadro de funcionários.
PARANÁ
No fim de março, a Electrolux demitiu 100 funcionários da unidade de Curitiba. Em abril, a estimativa do Sindicato dos Trabalhadores Eletro Eletrônicos (Seletroar) é que sejam dispensados mais 100 pessoas.
RIO GRANDE DO SUL
Fabricante de pneus, a Pirelli está negociando layoff de cinco meses para trabalhadores nas quatro fábricas que opera no Brasil, entre as quais a unidade de Gravataí, com 450. A ideia é suspender contratos de trabalho de cerca de 1,5 mil funcionários. A justificativa é o desaquecimento do setor automotivo.
A Randon acertou flexibilização da jornada com 7 mil funcionários, que não trabalharão durante cinco dias no mês de abril, maio e junho.
Alternativas antes dos cortes
Flexibilização do horário de trabalho
Para que salário e jornada de trabalho sejam reduzidos, é obrigatório a participação da entidade sindical na negociação. Pode durar três meses e ser renovado por mais um trimestre. A redução salarial deverá ser de no máximo 25% do salário, respeitado o salário mínimo vigente.
Quem já adotou: Marcopolo e Randon.
Férias coletivas
A concessão de férias não exige negociação com o sindicato da categoria. Não há redução alguma de encargo trabalhista, mas outros custos são minimizados. O empregador pode conceder férias coletivas em dois períodos anuais desde que nenhum deles seja inferior a 10 dias.
Quem já adotou: Volkswagen.
Layoff
É a suspensão temporária do contrato de trabalho. Precisa ser negociado entre empresa e sindicato de trabalhadores. O Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) paga o salário dos empregados, respeitado o limite do teto do seguro-desemprego, cabendo à empresa o pagamento da diferença para quem recebe salários superiores. Durante o período de suspensão contratual, ocorre a qualificação da mão de obra por meio de cursos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
Quem já adotou: Pirelli.
Plano de Demissão Voluntária (PDV)
Quando a crise se agrava e não há previsão de retomada econômica no curto prazo, empresas podem adotar um Plano de Demissão Voluntária (PDV) em que oferecem algumas vantagens aos trabalhadores que pedirem para sair. Além das verbas rescisórias, são oferecidas benefícios extras para incentivar o desligamento dos funcionários.
Quem já adotou: Estaleiro Atlântico Sul, GM, Mercedes-Benz e Vivo.