Por meio de telegramas enviados na segunda-feira, 25, a Mercedes-Benz oficializou a demissão de 500 trabalhadores da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Esse grupo estava em lay-off (contratos suspensos) há um ano e deveria retornar à fábrica no dia 15.
Os comunicados informando os trabalhadores para comparecerem à fábrica até sexta-feira para providenciar a homologação foram enviados após reunião de mais de 3 horas com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na manhã de ontem. A entidade tentava evitar os cortes.
Os demitidos terão uma reunião na entidade nesta terça-feira, 26, para discutir formas de protesto. A greve, estratégia adotada no mês passado quando a empresa inicialmente informou os cortes – e que levou à suspensão temporária da medida – está praticamente descartada pois, a partir de segunda-feira, todos os 7 mil trabalhadores da produção vão entrar em férias coletivas por cerca de 15 dias.
GM também pode demitir
Outra montadora do ABC que ameaça dispensar 819 trabalhadores que estão em lay-off é a General Motors de São Caetano do Sul. Reunião entre o sindicato dos metalúrgicos local e a empresa estava agendada para esta terça-feira, mas foi transferida para quarta.
Aparecido Inácio da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, afirma que a GM também planeja interromper toda a produção de automóveis e colocar quase 5 mil trabalhadores da produção em férias coletivas a partir de meados de junho, por até 20 dias.
“A empresa informou que não tem condição de segurar esse pessoal, que deveria retornar no dia 9 de junho, mas vamos tentar negociar alternativas aos cortes”, afirma Silva. A GM não comentou o assunto. A fábrica tem outros 568 trabalhadores em lay-off, de um total de 900 já negociados com o sindicato para participarem do programa.
A Mercedes informa que tentou evitar os cortes diretos abrindo um programa de demissão voluntária (PDV), mas obteve poucas adesões. Além dos 500 demitidos, a empresa informa ter ainda 1.750 trabalhadores excedentes (de um total de 10,5 mil). “Agora nosso objetivo é, em comum acordo com o sindicato, discutir como fazer a gestão desse excesso de pessoal até que o mercado volte”, diz o diretor de Comunicação e Relações Institucionais da Mercedes, Luiz Carlos Gomes de Moraes.
Proteção
O governo federal sinaliza para aprovar o Programa de Proteção ao Emprego, em discussão há dois anos, baseado no modelo alemão que consiste em reduzir jornada e salários em períodos de crise, para evitar demissões.
A Mercedes-Benz, contudo, decidiu não esperar uma possível aprovação do programa e o mesmo pode ocorrer com a GM. Pelo projeto em discussão entre governo, montadoras, autopeças e centrais sindicais, parte da redução dos salários que caberia aos trabalhadores seria bancada pelo governo, com dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhadores (FAT), o mesmo que hoje garante parcela do pagamento dos funcionários em lay-off.
A vantagem, segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, é que, ao contrário do lay-off, o trabalhador segue vinculado à empresa, e os tributos continuam a ser recolhidos. Outra vantagem é que o dinheiro seria usado para bancar trabalhadores com vínculo empregatício, e não desempregados, o que ajuda a fazer com que a economia continue girando.