Valor Econômico
O aumento da inadimplência ao longo da cadeia produtiva, a maior dificuldade de acesso ao crédito e a falta de demanda podem levar 38 mil micro e pequenas empresas paulistas do setor industrial a fecharem as portas nos próximos três meses, mais de 10% das 288 mil existentes no Estado. A situação preocupante é mostrada pelo 28º Indicador de Atividade da Micro e Pequena Indústria, pesquisa encomendada pelo sindicato que representa essas companhias (Simpi-SP) ao Datafolha, e divulgada com exclusividade ao Valor.
Na edição de junho, 13% dos empresários consultados afirmaram existir uma ameaça real de fechamento de seus negócios em 90 dias, três pontos percentuais abaixo do dado de maio. Como a variação ficou dentro da margem de erro da sondagem, de cinco pontos para mais ou para menos, o presidente do Simpi, Joseph Couri, avalia que não houve melhora entre um mês e outro. “É um sinal de que estamos chegando mais perto do fundo do poço, mas num patamar extremamente baixo e ruim”, disse. No mês passado, 314 empresas participaram da enquete.
Sem prever um prazo para o encerramento de suas atividades, 62% dos gestores ouvidos disseram que a crise está prejudicando os negócios e coloca o futuro de sua empresa em risco, índice também um pouco abaixo do registrado no mês anterior, de 66%, mas ainda elevado. Esse quadro deve permanecer no curto prazo, já que para 48% das indústrias que participaram do levantamento, a situação atual da empresa não deve mudar num horizonte de três meses.
Segundo Couri, entre o conjunto de fatores que ameaça a sobrevivência das micro e pequenas indústrias, a falta de financiamento tem papel importante. No mês passado, mais da metade (56%) das empresas consideraram que o capital de giro disponível é muito pouco ou insuficiente, enquanto apenas 28% declararam ter acesso a linhas de crédito para pessoa jurídica, dois pontos a menos do que em maio.
Entre os que não conseguem crédito para suas empresas, as alternativas para se financiar vão desde parentes e amigos (17%) ao cheque especial (14%) e empréstimo pessoal no banco (10%). Com menos recursos em caixa, a solvência das micro e pequenas indústrias de São Paulo foi afetada: 25% delas afirmaram que estavam inadimplentes em junho. Nesse grupo, a maior parte (22%) deixou de pagar algum imposto. As outras dívidas mais representativas foram com despesas (17%), fornecedores (14%) e bancos ou financeiras (14%).
Na outra ponta, também há uma dificuldade maior em pagar as contas, uma vez que o percentual de firmas que sofreu calotes subiu de 41% para 46% entre maio e o mês passado. Na avaliação do presidente do Simpi, os atrasos no recebimento são mais um indicativo de que, para algumas empresas, o fechamento está próximo. “Há um efeito em cascata de falta de crédito, perda do poder aquisitivo da população e impossibilidade de repassar aumentos de custos.”
A parcela de empresários que relatou ter enfrentado “alta significativa” nos custos de produção no mês anterior avançou de 51% para 54% na passagem mensal. Os preços de matérias-primas e insumos foram apontados como a maior pressão de custos, com 45% das respostas, e 46% das firmas ouvidas espera novos aumentos, ante 40% em maio. Em outro quesito da pesquisa, o peso dos tributos também fica claro, já que a fatia de empresas que avalia que os impostos trazem muitas dificuldades se expandiu de 69% para 72%.
Mesmo a alta de 14% para 17% no percentual de indústrias que fizeram algum investimento no mês anterior não pode ser vista como algo muito positivo, na opinião de Couri. “Para reduzir custos, algumas empresas estão fazendo reformas de equipamentos, ou se mudando para instalações menores. Não são investimentos para aumentar a produção, mas sim para ganhos de produtividade.”
Apesar do ajuste fiscal em curso, o Simpi tem sugerido medidas a autoridades do governo estadual e federal para evitar que as micro e pequenas indústrias paulistas quebrem. Depois de um encontro com o governador Geraldo Alckmin, a Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) redirecionou verbas já existentes para linhas de capital de giro mais atrativas a micro e pequenas empresas.
De acordo com o presidente do sindicato, também está em estudo a criação de uma linha de crédito maior que as já existentes no âmbito do Progeren (Programa de Apoio ao Fortalecimento da Capacidade de Geração de Emprego e Renda), do BNDES.
Além disso, o Simpi sugeriu ao governador de São Paulo que cobranças de dívidas tributárias não sejam mais enviadas para cartório de forma temporária, medida que está sendo avaliada pela Secretaria da Fazenda, e deve apresentar em breve à Secretaria de Energia do Estado um projeto que analisa a viabilidade do uso de energia fotovoltaica nas fábricas, fonte mais barata que a eletricidade da rede.