Fernando Travaglini, Sergio Lamucci, Angela Bittencourt e Vera Saavedra Durão, de Brasília, São Paulo e do Rio
A piora considerável do cenário inflacionário nas últimas semanas amplia o peso da decisão que será tomada amanhã pelo Comitê de Política Monetária (Copom), em sua primeira reunião no governo Dilma e com o Banco Central (BC) sob o comando de Alexandre Tombini. O relatório Focus já aponta previsão de um IPCA de 5,42% neste ano, acima do centro da meta de 4,5%.
Há consenso no mercado de que o BC deve elevar o juro básico amanhã de 10,75% ao ano para 11,25% ao ano. Mas cresce o número de economistas que defendem um aperto maior, de até 2,75 pontos ao longo do ano. A curva de juros futuros, que responde mais rapidamente aos dados conjunturais, já projeta um aperto monetário maior, com alta de 0,75 em março.
Depois de uma trégua em dezembro, os preços agropecuários voltaram a subir no atacado nos primeiros dez dias de janeiro. No IGP-10 deste mês, divulgado ontem, as cotações desses produtos subiram 0,6%, bem acima do nível de dezembro. O movimento reflete principalmente a renovada pressão sobre as commodities agrícolas, como café em grão, milho, trigo, açúcar e algodão. O café, por exemplo, teve alta de 8,63% em um mês. O impacto das chuvas neste começo do ano, que afeta os alimentos in natura, foi pequeno, porque esses produtos têm peso bem menor no atacado.
Para complicar o cenário, algumas commodities industriais também retomaram a alta. O preço do minério de ferro no mercado à vista subiu de US$ 170,1 a tonelada no fim de dezembro para US$ 180,8 a tonelada ontem. Ou seja, uma alta de 6,4% nesse curto período, com impacto nos custos industriais. E os analistas preveem que a cotação pode chegar a US$ 200 a tonelada em fevereiro, caso a demanda mundial continue crescendo por conta das compras antecipadas das usinas chinesas.
O carvão metalúrgico, que tem problemas de oferta em razão das inundações na Austrália, também subiu. Com a interrupção do fornecimento australiano, o preço do carvão chinês de alta qualidade já subiu de US$ 299 a tonelada para US$ 323 – uma elevação de 6%. Como o carvão é um importante insumo na produção siderúrgica, os preços do aço acompanharam a alta. Nos últimos dois meses, a elevação acumulada já alcança 35% no mercado internacional.