Usiminas deve iniciar duasmil demissões no fimdestemês

Empresa vai parar seu terceiro alto-forno ecortar 60% dos funcionários

RIO – Após o corte de cerca de 300 funcionários da CSN na última sexta-feira, o setor siderúrgico se prepara para mais uma onda de demissões. Entre o fim deste mês e o início do próximo, deve começar a dispensa de cerca de dois mil empregados da Usiminas. Resultado direto da paralisação de mais um alto-­forno da siderúrgica — em 2015, a empresa já havia interrompido a produção em dois de seus cinco alto-s­fornos. Com a paralisação, o número de empregados da Usiminas será cortado em 60% — hoje são cinco mil. E a capacidade de produção será reduzida em 55%, de 9 milhões de toneladas de aço bruto para 5 milhões de toneladas.

Com o corte da Usiminas e as esperadas novas demissões da CSN, o número de pessoas que trabalham no setor e perderão o emprego nos próximos seis meses é estimado em 9.836, segundo dados atualizados até ontem pelo Instituto Aço Brasil (IABr). Desde janeiro de 2014, foram 22.260 demissões e 2.266 em layoffs (suspensão temporária de contratos). Há dois anos, a indústria siderúrgica empregava 122.400 pessoas. Os dados foram apresentados pelo presidente executivo do IABr, Marco Polo de Mello Lopes, ao ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, em reunião ontem em Brasília.

Os dois mil futuros desempregados da Usiminas trabalham na unidade de Cubatão (SP), onde a produção de aço será completamente paralisada. Não apenas o alto-­forno, como outras estruturas do processo produtivo, como a aciaria (onde o aço é propriamente produzido), terão a atividade interrompida. Apenas as laminadoras, onde as placas de aço são comprimidas, ficando mais finas, vão continuar funcionando. Com isso, a Usiminas terá de comprar no mercado o aço que será usado como matéria-­prima em Cubatão.

CSN REABRE CONVERSA COM SINDICATO

Na crise de 2008/2009, a Usiminas também fechou três altos­fornos: dois em Ipatinga (MG) e um em Cubatão. Em Ipatinga, a empresa tem, no total três altos­fornos e em Cubatão outros dois. Desta vez, como os dois de Cubatão vão parar, o impacto será maior. No momento, a Usiminas negocia com os sindicatos um pacote de benefícios, como a manutenção do plano de saúde por até seis meses para os demitidos, para minimizar os efeitos das demissões. As conversas são intermediadas pelo Ministério Público do Trabalho. Já houve oito reuniões.

— Há razões estruturais e conjunturais para a crise que o setor vive hoje. A demanda interna por aço caiu bruscamente e há um excesso de oferta de 700 milhões de toneladas de aço no mundo. Então, as empresas não conseguem nem vender aqui dentro nem vender lá fora — diz Marco Polo.

O consumo de aço no Brasil despencou 16% entre janeiro e novembro de 2015, ante igual período de 2014. Tanto Usiminas como CSN estão entre as siderúrgicas mais afetadas porque concentram suas produções no chamado aço plano, usado na indústria automotiva e de linha branca, cujo consumo vem caindo drasticamente nos últimos meses. A CSN também avalia desligar um de seus dois altos­fornos em Volta Redonda, no Sul Fluminense. Ontem, após encontro na véspera de representantes sindicais e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, a empresa decidiu reabrir negociações com sindicatos, que estimam corte de até três mil pessoas, caso o alto­-forno seja de fato desligado.

Pedro Galdi, da consultoria What’s Call, avalia que a próxima candidata a fechar um alto-­forno seja a Arcelor, que também atua no segmento de aço plano. A empresa nega e diz que não há previsão de demissões. A CSA, no Rio, também disse que não há intenção de cortar pessoal ou reduzir produção. A empresa está operando com 80% da capacidade. Já a Gerdau, quando perguntada se faria demissões ou paralisaria algum de seus altos­-fornos, disse em nota que “não tem como antecipar medidas futuras, as quais dependerão da evolução do mercado”.

— Para o setor melhorar, o desemprego tem que parar de cair e o poder aquisitivo voltar a subir. Isso não vai acontecer tão cedo, então, novos fechamentos de altos-fornos virão por aí — diz Galdi.

Hoje, há apenas dois paralisados de um total de 16. Na crise de 2008/2009, sete pararam.