Fundo que usa recursos dos trabalhadores para investir em infraestrutura será o quarto sócio a dar baixa contábil nos aportes na empresa de sondas
O fundo de investimento que usa recursos do FGTS para investir em infraestrutura deve registrar em 2015 a menor rentabilidade da história. O ‘Estado’ apurou que uma das principais razões para um resultado tão ruim deve ser a Sete Brasil. O FI-FGTS deve dar baixa em uma perda de cerca de R$ 1 bilhão pelos prejuízos com a empresa criada para construir e administrar as sondas do pré-sal.
As contas do FI-FGTS estão em fase final de auditoria. O número do retorno em 2015 ainda não está fechado, mas fontes próximas ao fundo asseguram que deve ser menor do que o de 2008, logo após sua criação, quando a rentabilidade foi de apenas 5,01%. Em 2014, a rentabilidade foi de 7,05%, já abaixo do recorde positivo registrado no ano anterior, de 8,22%.
Pelas regras do fundo, a rentabilidade de referência é de 6% ao ano, mais a Taxa Referencial (TR). Não há punição por não alcançar essa marca. No entanto, se o retorno for menor do que o depositado nas contas vinculadas ao FGTS (3% ao ano mais TR), o fundo teria de completar a diferença.
O retorno já tinha caído em 2014 por causa da Sete Brasil. O FI-FGTS reservou naquele ano R$ 374 milhões para cobrir eventuais perdas com a empresa. A Sete foi criada em 2010 para construir 28 sondas que a Petrobrás usaria na exploração em águas profundas. Mas o projeto acabou sendo atropelado pela reviravolta na economia, e a há muitas dúvidas em relação à capacidade de sobrevivência da companhia.
Prejuízo. O FI-FGTS é o quarto sócio a reconhecer a perda total do investimento na Sete. O banco BTG Pactual e os fundos de pensão dos empregados da Caixa (Funcef) e do Banco do Brasil (Previ) lançaram os prejuízos nos balanços anuais. Estima-se que a perda desses três some cerca de R$ 2,6 bilhões.
O FI-FGTS, além de sócio, é credor da Sete. De acordo com os números do último balanço, tem R$ 275 milhões no Fundo de Investimento em Participações Sondas, que controla 95% da Sete, tendo como sócios Bradesco, BTG Pactual, Santander, Previ e Funcef. Os acionistas aportaram, ao todo, R$ 8,3 bilhões no projeto. Os outros 5% são da Petrobrás.
Como credor, o FI-FGTS teria que receber R$ 2,8 bilhões da Sete – 8,34% do patrimônio líquido do fundo, de R$ 34 bilhões. Conseguiu R$ 900 milhões em ações do Banco do Brasil como garantia da operação, pagas pelo Fundo de Garantia para Construção Naval (FGCN).
Os outros credores escolheram o pagamento em títulos públicos. Como as ações do BB valorizaram, o fundo fechou 2015 com abatimento em torno de R$ 1,4 bilhão, praticamente a metade do valor da dívida.