Mais emprego para quem tem ensino médio


Maioria das vagas abertas em 2009 foi para pessoas nesse nível de instrução. Comércio e serviços foram os setores que mais buscaram esses profissionais

PAULO JUSTUS, paulo.justus@grupoestado.com.br

A maior parte dos postos de trabalho criados em 2009 se destinou a quem tem ensino médio. De acordo com informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, foram abertas 255 mil vagas apenas na região metropolitana de São Paulo para profissionais com esse grau de instrução.

O Caged mostrou que o mercado de trabalho está mais seletivo, com fechamento de vagas nas faixas de escolaridade mais baixas e concentração dos novos empregos na faixa de trabalhadores com instrução a partir do ensino médio. “Esse movimento é natural em períodos de crise, quando o mercado de trabalho tem uma oferta maior de trabalhadores e escolhe os mais bem preparados”, diz Anselmo Santos, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). De acordo com ele, a perspectiva para quem tem menos escolaridade só melhora quando a economia como um todo cresce e abre mais oportunidades de emprego.

Já as oportunidades para quem tem ensino superior também cresceram, mas em ritmo menor ao registrado em 2008. De todas as faixas de escolaridade analisadas pelo Caged, o ensino médio foi a única a ter uma oferta maior que em 2008. “Algumas empresas cortaram cargos que recebiam mais e tinham uma melhor instrução”, diz o pesquisador Hélio Zylberstajn, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da Universidade de São Paulo (USP).

Outro efeito que contribuiu para o aumento da participação do ensino médio nas estatísticas do trabalho foi a ascensão dos setores de comércio e serviços, que puxaram a criação de emprego em 2009. Só os serviços geraram mais de 500 mil empregos em todo o País, seguido pelo comércio com 297 mil postos abertos em 2009. “Comércio e serviços são setores que requerem com maior intensidade pessoas com esse perfil e até muito menos experiência do que a indústria requer”, diz Alexandre Loloyan, gerente de análises do Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade).

Essa tendência explica a predominância dos jovens entre os grupos que dominaram a geração de emprego em São Paulo, medida pelo Observatório do Emprego e Trabalho, da Secretaria Estadual do Emprego e Relações do Trabalho (SERT). Segundo a entidade, o emprego no Estado de São Paulo foi puxado pelos jovens, mulheres até 24 anos e trabalhadores com ensino médio completo. Esses grupos foram também os que menos perderam vagas em dezembro. “A tendência foi mantida. Em dezembro esses mesmos grupos se destacaram novamente, mas desta vez pela sua pequena participação na redução do emprego”, afirma Zylberstajn.

Na contramão, a extinção de postos ficou concentrada nas pessoas com mais de 25 anos, nos homens e nos trabalhadores que não terminaram o ensino fundamental. “Portanto, nossa situação é delicada em matéria de emprego. A estatística mostra que o mercado de trabalho é seletivo – as demissões estão concentradas nas pessoas mais velhas e com menor escolaridade”, diz o secretário de Emprego e Relações do Trabalho, Guilherme Afif Domingos. 

No que se refere à escolaridade, as demissões foram registradas principalmente no grupo de trabalhadores que cursaram até o ensino fundamental completo (67,7% dos postos fechados). Ou seja, de cada três vagas perdidas, duas eram ocupadas por pessoas com menor escolaridade. Por outro lado, os trabalhadores com escolaridade mais elevada (ensino médio completo) responderam por apenas 10,8% das vagas extintas.

Do total de vagas fechadas, apenas 20,3% corresponderam a postos ocupados por jovens de até 24 anos. A faixa de 25 a 39 anos teve participação de 51,3%. Os trabalhadores com 40 anos ou mais responderam por 28,4% da redução do emprego.