CSN valoriza carteira

Siderúrgica ganha cerca de R$ 850 milhões com ações da Riversdale e Usiminas.


Fernando Torres | De São Paulo

Se fosse uma gestora de recursos, a CSN teria um bom histórico de rendimentos para mostrar aos investidores, com ganho de mais de R$ 850 milhões com os últimos investimentos realizados no mercado de ações.

A empresa não conseguiu o objetivo anunciado ao comprar uma fatia da australiana Riversdale, mas obteve um retorno 114% com a compra de quase 20% do capital da companhia. Cálculos aproximados apontam gasto de US$ 390 milhões na compra das ações, que foram vendidas na quarta-feira por US$ 835 milhões, uma diferença de US$ 445 milhões, ou R$ 696 milhões.

Com a compra de ações da Usiminas, que já atingem 7,62% do capital total, o ganho – ainda não realizado – é de R$ 155 milhões entre o fim de 2010 e segunda-feira. O investimento na empresa soma R$ 1,88 bilhão.

Na Usiminas, a perda de 8,5% no ano com as ações preferenciais é mais do que compensada pela alta de 29,4% das ordinárias no mesmo período. E a valorização das ações com direito a voto é explicada em parte pelo próprio movimento da CSN e seus comunicados, que indicam a possibilidade de usar o investimento de forma estratégica, com chance de mudança na composição do bloco de controle.

Não é de hoje que a CSN ganha dinheiro com aquisições frustradas. Quando perdeu para a indiana Tata a disputa pela britânica Corus, em 2007, a CSN teve receita de R$ 235 milhões com uma espécie de multa devida pela companhia.

Questionada sobre as operações, a CSN, que tem R$ 10 bilhões em caixa, negou que encare as compras como investimentos financeiros. O diretor financeiro da empresa, Paulo Penido, disse que a compra de 20% da Riversdale se explica pela “oportunidade de melhorar o ´hedge´ [proteção] natural para as compras de carvão metalúrgico”. Em relação à Usiminas, a empresa não foi além do comunicado de 27 de janeiro, que diz que o objetivo inicial era atingir até 10% das ações ordinárias e 10% das ações preferenciais. Até quarta-feira, ela tinha 10% dos papéis com direito a voto e 5,25% das PN.

O analista Pedro Galdi, da SLW Corretora, não acredita que a CSN queira de fato consolidar a Usiminas, já que vê grande resistência do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), por conta da concentração no mercado local de aços planos. Galdi encara o investimento mais como uma posição estratégica da CSN, que pode querer o direito de venda conjunta em caso de alienação de controle da Usiminas, sendo que a principal interessada, segundo o mercado, seria a Gerdau.

Para Felipe Reis, analista do Santander, o argumento para a Riversdale fazia sentido, já que o carvão é “um insumo que está fadado a aumento de preço”. Mas com a oferta de aquisição de todas as ações pela Rio Tinto, a um preço alto, o cenário mudou.

Em relação à Usiminas, Reis entende que o objetivo é dificultar um possível processo de fusão, que colocaria a CSN em situação ruim. “Ela poderia ter ficado de braço cruzado, mas preferiu agir.” Numa hipótese, a CSN pode fazer uma oferta tentadora ao fundo de pensão dos funcionários da Usiminas, à Camargo Corrêa e à Votorantim, integrantes do bloco de controle, o que forçaria a Nippon Steel a cobrir a proposta com um alto desembolso. Em caso de venda do controle, a CSN também poderia fazer oferta concorrente.

Segundo Ricardo Almeida, professor do Insper, a CSN tem especulado com algo que ela “conhece muito bem”, que são os movimentos do mercado siderúrgico. Para ele, os investidores acreditam que ela é capaz de gerar um valor que não conseguiriam obter diretamente.