Medidas para conter crescimento não afetam indústria no 1º trimestre


As medidas do governo para tentar conter a expansão econômica como forma de domar a inflação não fizeram efeito sobre o ritmo da produção industrial brasileira no primeiro trimestre. Entre fevereiro e março, a produção subiu 0,5% e atingiu o maior patamar da série iniciada em 1991, apesar da queda de 2,1% na comparação com março do ano passado, segundo dados divulgados hoje pela Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física Brasil (PIM-PF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

´No primeiro trimestre, a indústria mostrou uma trajetória ascendente. Em março, houve crescimento de magnitude inferior, mas o ritmo permaneceu ascendente´, frisou André Macedo, gerente da coordenação de indústria do IBGE. ´A indústria ainda não percebeu os reflexos da alta dos juros´, acrescentou.

Na comparação com fevereiro, apenas os bens intermediários mostraram produção menor em março, com queda de 0,2%. De resto, os bens de capital subiram 3,4% e os bens de consumo duráveis avançaram 4,1%, ambos atingindo o patamar de produção mais elevado da série. O recorde anterior do nível de produção para os bens de capital era de setembro de 2008, enquanto os bens duráveis superaram a marca de junho de 2008.

A alta dos bens duráveis em março foi puxada por material eletrônico e equipamentos de comunicação, cuja produção cresceu 10,1% na comparação com fevereiro. Macedo explicou que, nesse grupo, os televisores tiveram recuperação, enquanto os celulares se beneficiaram da retomada das exportações.

Os veículos automotores pisaram no freio em março e viram sua produção cair 0,5% em relação a fevereiro. Para Macedo, mais que os efeitos das políticas governamentais para limitar o crescimento econômico, o comportamento dos automóveis mostra uma acomodação, depois de um avanço de 5,9% entre janeiro e fevereiro.

O técnico do IBGE minimizou ainda a queda de 2,1% na produção em março, na comparação com igual mês do ano passado. Segundo ele, apesar da primeira queda desde outubro de 2009, na relação com igual mês do ano anterior, o resultado de março é influenciado pela ocorrência do carnaval, que, em 2010, caiu em fevereiro.

´Em março de 2010, o setor industrial ainda era favorecido pelas medidas de incentivo fiscal´, ressaltou Macedo.

O bom momento da indústria também é confirmado pelos números acumulados no primeiro trimestre. A alta de 2,3% frente a igual período do ano anterior foi baseada em forte crescimento de 8,4% dos bens de capital, o que aponta ainda para uma modernização dos parques produtivos.

E se os veículos automotores apresentaram queda em março, a análise do primeiro trimestre ainda mostra o grupamento como a maior influência de alta, com crescimento de 10% frente aos três primeiros meses do calendário anterior, quando as medidas de desoneração fiscal ainda beneficiavam o setor. Bens de capital e os eletrodomésticos contribuíram para uma ampliação de 4,5% nas máquinas e equipamentos no primeiro trimestre, com a segunda maior influência de alta para o desempenho da indústria entre janeiro e março.

Mesmo com a redução do ritmo de crescimento da produção industrial na comparação com a alta de 18,2% do primeiro trimestre do ano passado, o avanço de 2,3% nos três primeiros meses de 2011 representou o sexto trimestre seguido com elevação. Entre as categorias de uso, os bens intermediários; os bens de consumo duráveis e os bens de consumo não duráveis também apresentaram o sexto trimestre seguido de crescimento, enquanto os bens de capital tiveram o quinto trimestre consecutivo de alta.

(Rafael Rosas | Valor)