Cresce espaço das matérias-primas nas exportações brasileiras, diz Ipea

País perdeu participação no comércio de itens com mais tecnologia.

Ipea diz que expansão reflete perda de competitividade no comércio global.


em São Paulo

As matérias-primas ganharam espaço na pauta brasileira de exportações ao mesmo tempo em que o país perdeu espaço no comércio mundial de produtos de maior intensidade tecnológica, segundo estudo divulgado pelo Ipea nesta terça-feira (10).

“Desde os anos 1990, a participação das commodities nas exportações brasileiras oscila ao redor dos 40%. Entre 2007 e 2010, esta participação saltou dez pontos percentuais, alcançando 51% das exportações brasileiras”, informou a entidade.

Além das boas vendas, “tal resultado reflete também a perda de competitividade do país no comércio internacional em todos os outros grupos de produtos, especialmente os mais intensivos em tecnologia”, informa documento divulgado pelo Ipea.

Entre 2006 e 2009, o Brasil perdeu participação de mercado em todos os grupos de produtos, exceto commodities e petróleo, segundo o Ipea.  A queda do dólar frente o real  e o forte  crescimento de países como a China também são apontados como um dos motivadores desse movimento.

O Ipea destaca ainda que a perda de market share do Brasil nos produtos de maior intensidade tecnológica piorou depois da crise  e coincide com o aumento da participação das commodities na pauta, a partir de 2006.

Tecnológicos em baixa

De acordo com a entidade, as exportações brasileiras de commodities primárias passaram a representar 4,66% das exportações mundiais desses itens em 2009, ante 2,77% em 2000.

No mesmo período, a participação do Brasil no comércio mundial de bens subiu de 0,88% em 2000 para 1,26% em 2009. Perdeu, no entanto, espaço nas exportações de alta intensidade tecnológica: passou de 0,52% em 2000 para 0,49% em 2009.

“Apesar do avanço significativo, é possível observar que estes ganhos estão concentrados
no grupo commodities”, diz o Ipea no artigo “A primarização da pauta de exportações no Brasil: ainda um dilema”, do boletim Radar elaborado pela entidade.

Ainda segundo o Ipea, o Brasil ganhou espaço no mercado de forma significativa entre 2000 e 2006 nos produtos de média intensidade tecnológica, entre os quais estão automóveis e máquinas e equipamentos, mas começou a perder espaço desde então.

Somando-se os produtos de média e alta intensidade tecnológica, o Brasil detinha 0,57% das exportações mundiais em 2000, alcançando 0,71% em 2006. Entretanto, a partir de 2006, o país começa a perder mercado nestes produtos de forma significativa e em 2009 detém 0,6% do mercado mundial, de acordo com o Ipea.

Minérios em alta
De acordo com os dados do Ipea, o país aumentou em 2010  seu nível de exportações de minérios, principalmente minério de ferro, em relação a 2009, e este produto foi o principal responsável pelos 51% do total exportado em commodities em 2010.

O Ipea destaca ainda que o açúcar também teve papel importante em 2010, crescendo em participação total, enquanto itens como carne e soja tiveram uma participação proporcional na pauta de exportações brasileira menor que em 2009.

“No caso da soja, além do aumento da exportação de outros produtos, uma explicação possível é a competição com os EUA, que exportaram mais para o maior país asiático”, diz o estudo.