Até abril, geração de empregos fica 20% menor do que no começo de 2010


Luciana Otoni | De Brasília

18/05/2011

O mercado de trabalho criou em abril 272 mil vagas com carteira assinada. Embora o número seja inferior aos 305 mil postos computados no mesmo mês de 2010, o mercado de trabalho segue aquecido e teve, em abril, desempenho bem melhor do que em março, quando 92 mil vagas foram criadas. Para maio, o Ministério do Trabalho e Emprego projeta contratações próximas de 300 mil.

Nos quatro primeiros meses do ano o saldo do mercado de trabalho é de 797.790 vagas na série sem ajustes. Comparado ao mesmo período de 2010, isso representou uma queda de 20,5%. Apesar da retração, consequência em parte da comparação com a base elevada de 2010, os especialistas em mercado de trabalho salientam que a criação de emprego se mantém em níveis expressivos e não se deve esperar por forte desaceleração nos próximos meses.


Para eles, a análise do mercado de trabalho em 2011 deve considerar três fatores: o desconhecimento sobre o grau de desaceleração da economia, os efeitos ainda incertos da política monetária restritiva e das medidas prudenciais no arrefecimento da demanda, e as consequências da ampliação da renda e do crédito sobre o consumo.

Na análise do economista da Opus Gestão e professor da PUC Rio, José Márcio Camargo, as contratações do mês passado foram expressivas. “As 272 mil vagas abertas em abril representam um dado forte. É um número menor que o de 2010, mas é, por outro lado, parecido com o de 2008, que foi um ano bom. Por isso, não é um dado fraco e não mostra uma desaceleração sistemática”, comentou. “Os sinais da economia não são claros em termos de perda significativa de ritmo”, complementou.

Camargo ponderou, no entanto, que o mercado de trabalho reage com defasagem ao desaquecimento do Produto Interno Bruto (PIB). É preciso, segundo ele, aguardar mais um tempo para saber as consequência do aumento dos juros e das medidas de contenção à expansão do crédito sobre o nível de atividade.

Das 272 mil vagas registradas em abril, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado ontem pelo Ministério do Trabalho, mostrou que 114 mil foram para o setor serviços e 51 mil para a indústria da transformação. O comércio admitiu 42 mil e as empresas da construção civil assinaram a carteira de 36 mil trabalhadores..

O professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto Ramos, disse que embora no quadrimestre haja desaceleração no mercado de trabalho, ela é menor do que se esperava. A continuidade e o aprofundamento desse processo dependerá dos efeitos do aumento dos juros e das medidas macroprudenciais. “Se, de fato, o ritmo de crescimento baixar para 4,5%, a economia não gerará o mesmo nível de emprego que o observado em 2010”, observou.

Segundo ele, no entanto, os diferentes objetivos do governo – baixar a inflação, controlar o câmbio e manter o crescimento – tornam a política monetária menos eficaz em frear a taxa de expansão do país. E, em consequência, a criação de empregos se torna menos previsível. “O mercado de trabalho continuará crescendo, mas não nos níveis observados em 2010”, diz.

Para o diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz, o mercado de trabalho segue em 2011 com uma dinâmica forte, associada a investimentos, à formalização de empresas e à demanda interna aquecida. “A geração de empregos em abril foi surpreendente. Eu esperava por uma queda no nível de atividade maior do que a que o mercado de trabalho está indicando.”

Ganz avaliou que o maior nível de ocupação e o ganho de renda da população reforçaram o consumo, que tem favorecido, entre outros segmentos, o setor de serviços, um dos líderes na contratação de mão de obra.

Na indicação para o ano, o Ministério do Trabalho mantém a estimativa de oferta recorde de 3 milhões de contratações. Para chegar a esse resultado, a economia brasileira teria de criar, em termos líquidos, uma média mensal de 275 mil vagas entre maio e dezembro.