Veículos: Greve já gerou perda de produção de 15 mil carros, diz sindicato
Marli Lima | De Curitiba
Depois de dar férias coletivas de duas semanas em março, a unidade da Volkswagen de São José dos Pinhais (PR) está parada desde o dia 5 por causa de greve de cerca de 3 mil trabalhadores das áreas de montagem, armação e pintura que querem definir a participação nos lucros e resultados de 2011. As negociações entre as partes não avançaram e, de acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, os prejuízos somam R$ 583 milhões, porque 14.580 veículos deixaram de ser produzidos no período. Ontem, dia de pagamento de pessoal, a montadora descontou os dias não trabalhados e, no fim da tarde, houve nova reunião com o sindicato. Hoje, haverá assembleia para que seja decidido o rumo do movimento dos trabalhadores.
Desde que a greve começou, o sindicato fez denúncias contra a montadora e distribuiu para a imprensa e deputados um dossiê com dados de produtividade em alta, remuneração menor que em outras fábricas e incentivos de R$ 2 bilhões recebidos do governo, além de alertar para problemas na saúde dos trabalhadores. A VW não comentou as críticas e, em nota, não citou os salários de São Paulo, mas informou que paga mais do que montadoras concorrentes instaladas na Bahia, no Rio Grande do Sul e em Minas.
No mesmo texto, a empresa acrescentou que desejava chegar a acordo “positivo para a sustentabilidade dessa fábrica”. Ao contrário de outras montadoras instaladas no Paraná, como Volvo e Renault, que cederam às demandas do sindicato e concordaram com PLR de R$ 15 mil e R$ 12 mil, respectivamente, divididos em duas partes, a VW não fez nenhuma contraproposta, além de R$ 4,6 mil que pagaria como antecipação. O restante seria discutido depois.
Na segunda semana de greve, o governador do Paraná, Beto Richa, foi visitado tanto por representantes do sindicato como pelo presidente da VW do Brasil, Thomas Schmall, que esteve em Curitiba no dia 13 para encontro com o tucano. O teor da conversa entre eles foi mantido em segredo. De lá para cá também surgiram comentários de que a empresa estaria aproveitando o período para adaptar a fábrica para a montagem final da perua Spacefox, feita na Argentina. A decisão não foi confirmada pela empresa, que hoje produz no Paraná os modelos Fox, Crossfox e Golf. No dia 23, prevendo a continuidade do impasse, os trabalhadores passaram a contar com um fundo de greve.
“Acredito que deve ter algo grande por trás do interesse de segurar uma greve por tanto tempo”, disse o secretário-geral do sindicato, Jamil Dávila. Trata-se da maior paralisação já enfrentada na unidade inaugurada há 12 anos. Em 2009, os trabalhadores fizeram greve de 21 dias, para reparações no piso salarial. Dávila argumenta que não faz sentido a economia que está sendo feita pela empresa ao negar as reivindicações. Pelos cálculos do sindicato, menos de 1% do valor que deixou de ser faturado seria suficiente para cobrir a diferença do PLR. O sindicalista contou que o salário de montador de São José dos Pinhais com 10 anos de casa é de R$ 2.025, e o mesmo profissional estaria recebendo R$ 3.750 no ABC paulista. Ele também disse que os pátios de estoques ao lado da fábrica estão vazios e previu que pode faltar veículos nos próximos dias. A VW não informou se isso poderia ocorrer.