Decadente, Estadão soma preconceito social e ranço de elite em ataque a Paulinho

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Jornal reforça em editorial desta quinta-feira 28 laços com o pior da oligarquia paulista; preconceitos de elite e desprezo pelos trabalhadores e seus representantes estão presentes no texto ‘Os métodos de sempre’; alvo no deputado federal e presidente da central Força Sindical é pretexto para atingir pessoas que saíram das classes mais pobres e alcançaram projeção nacional por seu próprio esforço e talento; Paulo Pereira da Silva é citado mais de dez vezes em tentativa de intriga com o presidente interino Michel Temer; “O presidente abriu espaço para as centrais sindicais nas grandes mesas de negociação de seu governo e isso, como se vê, incomoda os arautos de um passado em que o povo ficava fora da grande política e da participação efetiva nos destinos da Nação”, disse Paulinho ao BR:; “O ataque contra mim procura atingir a todos os que não tinham voz e ganharam a influência e o prestígio que o Estadão vai combater até seu último dia”; com contas no vermelho, jornalão da família Mesquita extinguiu cargo de editor-chefe, no mês passado, para economizar em salários; intelectual italiano Antonio Gramsci já explicou o caráter desse tipo de publicação

“Os jornais são aparelhos ideológicos cuja função é transformar uma verdade de classe num senso comum, assimilado pelas demais classes como verdade coletiva – isto é, exerce o papel cultural de propagador de ideologia. Ela imbute uma ética, mas também a ética não é inocente: ela é uma ética de classe“. Antônio Gramsci

Nascido no berço da oligarquia cafeeira e latifundiária do Brasil do século 19, o jornal O Estado de S. Paulo reafirmou nesta quinta-feira 28, em editorial, seu atavismo com o preconceito de classe social, o ranço de superioridade da chamada elite e o atraso no debate de ideias sobre o Brasil.

Intitulado ‘Os métodos de sempre’, texto estampado na página de editoriais que, em passado distante, influenciava a classe dominante, procura criar intrigas dentro do governo interino do presidente Michel Temer e, especialmente, atingir os trabalhadores e seus representantes. Para tanto, faz alvo no deputado federal e sindicalista Paulo Pereira da Silva, presidente do partido Solidariedade e da central Força Sindical.

Fundador da legenda, da central e em seu terceiro mandato como deputado federal, Paulinho tem tido, nos últimos anos, sua representatividade testada e confirmada em eleições parlamentares, à frente de um partido de expressão nacional e entre seus companheiros sindicalistas. Egresso de família pobre do interior do Paraná, ele é um nome emblemático do trabalhador que veio de baixo, superou, um a um, os obstáculos da vida e conseguiu, por seu próprio esforço e talento, tornar-se uma das vozes mais influentes no debate nacional.

Após firmar posição a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, Paulinho, de maneira legítima, ajudou as centrais sindicais a conquistarem espaço concreto e objetivo no governo de Michel Temer. Prova está na regularidade dos encontros formais dos quais participam quatro centrais sindicais com integrantes do primeiro escalão do governo, no Palácio do Planalto, sempre acompanhados pela mídia. O sentido desse grupo é o de oferecer propostas para as reformas da Previdência Social e trabalhista. A adequação da defesa dos direitos e conquistas dos trabalhadores com a necessidade de ajustar o sistema nacional de contribuições e aposentadorias e modernizar a legislação trabalhista ganhou, neste foro governo-centrais, um ambiente transparente e organizado – e que avança.

É disso que o Estadão, jornal que cultua ídolos dos séculos retrasado e passado, não gosta. Ou melhor, detesta e combate. É essa a base que sustenta o texto de agressões e animosidades a Paulinho. Tanto mais porque, dois dias antes de sua publicação, o presidente da Força mostrou-se como um dos responsáveis pela unidade das seis centrais sindicais – CUT, a própria Força, UGT, CSB, CTB e Nova Central – em assembleia histórica. Depois de longo de inverno, as centrais voltaram a se unir, na prática, em torno de uma pauta comum para enfrentar a agenda neoliberal e ultraconservadora. O Estadão, é claro, repudia – e teme – esse tipo de, para o jornal, ‘insubordinação’. O jornalão gostaria, isso sim, que os trabalhadores estivessem calados, divididos e sem líderes. Pelo trabalho de sindicalistas como Paulinho, no entanto, o que está acontecendo é exatamente o contrário: superação de divergências, respeito pelas diferenças e unidade na ação.

PaulinhoCrédito: Arquivo
“Como acreditávamos desde sempre, o presidente Temer, ao assumir o poder, abriu espaço para os trabalhadores participarem das discussões que nos interessam diretamente. Isso, ao que parece pelo editorial do Estadão, não estava no script da classe alta”, afirmou Paulinho ao BR:.

“Atingir a mim, num texto em que sou citado dez vezes, é um meio de tentar barrar a presença dos trabalhadores no grande palco das discussões nacionais”, resumiu. “Esse processo, porém, tem o firme aval do próprio presidente Temer, que sabe que não se governa corretamente um país sem a participação dos trabalhadores”.

Para o Estadão, bons eram os tempos em que os barões do café se juntavam nas velhas mansões da avenida Paulista ou no porto de Santos e, desse eixo, conseguiam amarrar todo um país a um modelo de subdesenvolvimento apoiado na monocultura do próprio café e em eleições presidenciais manipuladas e roubadas. Um jornal com esse DNA não tem mesmo como aceitar que, na vida do Brasil do século 21, trabalhadores se sentem à mesma mesa que os patrões, discutam de igual para igual com o governo e pressionem, com toda a garra, pelo que consideram justo e positivo para o crescimento de todos e do País.

Monocórdico contra Paulinho e, de quebra, contra o líder dos trabalhadores sem terra José Rainha Jr., de longa e reconhecida atuação contra o latifúndio improdutivo e pela reforma agrária, o editorial ‘Os métodos de sempre’ é um retrato pronto e acabado da decadência que se abateu sobre o centenário matutino.

Nos últimos anos, a veloz e acentuada perda de leitores e anunciantes do grupo Estado levou ao fechamento de um seus veículos, o Jornal da Tarde, provocou demissões em massa entre jornalistas e levou a empresa a uma situação de endividamento próxima à insolvência. Fotografia dramática desse doloroso declínio se viu um mês atrás, quando o Estadão extinguiu o cargo de editor-chefe do jornal sob a justificativa de contenção de despesas. Não é de se estranhar, assim, que uma publicação de papel e público minguantes, caixa furado e acéfalo de lideranças faça o que faz. Trata-se, apenas, de mais um momento da inexorável derrocada de um tipo de postura que não tem mais espaço na sociedade brasileira. Paulinho, neste sentido, foi vítima de um espasmo agonizante da velha, atrasada e renitente oligarquia paulista.

“Vindo de quem veio, esse ataque é um elogio”, resumiu, bem humorado, o líder sindical ao BR: