Diário do Grande ABC
“Eu não quero que a Volkswagen venha retirar as ferramentas. Na verdade, quero meu emprego de volta. Se o pior acontecer, vai impactar tudo na minha vida e, pelo que parece, a Volks não irá voltar atrás”, desabafa o soldador Thiago da Costa Oliveira, 29 anos, um dos cerca de 100 funcionários que formaram ‘barricada’ em defesa do emprego em frente à fabrica da Keiper Metalls do Brasil, em Mauá, na tarde de ontem.
A empresa, adquirida pelo Grupo Prevent, de origem bósnia, fornecia bancos automotivos para a montadora alemã. Após atrasos na entrega dos produtos, o que ocorreu por diversas vezes, durante um ano, a Volks anunciou, no dia 5, que rescindiria o contrato com a Keiper, e que havia ingressado com ação no Judiciário para retomar seu ferramental. O Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá alega que a demora na entrega dos produtos visava o reajuste dos valores pagos.
Ontem, por sua vez, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo proferiu decisão favorável à Volks. “Diante do exposto, defiro a tutela provisória, para determinar a retomada imediata dos bens – ferramentas e meios de produção pela agravante, mediante caução a ser prestada no prazo de 48 horas, no valor de R$ 50 mil, sob pena de revogação da medida. Fica mantida a multa anteriormente fixada para o caso de descumprimento desta decisão”.
Diante da situação, o sindicato convocou os operários para se postarem em frente à Keiper, a fim de evitar a retomada dos ferramentais. Isso porque a indústria já avisou que não tem recursos para bancar verbas rescisórias, caso venha a demitir seus 400 funcionários da unidade da região, onde é feita a estrutura dos bancos, e outros 400 em planta de Araçariguama, no Interior, responsável pela estamparia. Sem contar os 150 da Fameq, na Capital, que produzia componentes para os bancos, e dispensou 30 pessoas recentemente, devido a dificuldades financeiras, já que enfrenta processo de recuperação judicial.
Há cerca de duas semanas, todos os empregados estão afastados da firma, de banco de horas, já que 85% do faturamento da companhia provém da Volks. “Agora todos nós estamos mais receosos, porque parece que a Volkswagen não está muito propensa a conversar com a Keiper. Mas, a Keiper, por enquanto, também não desceu aqui para falar conosco. Por isso, precisamos nos precaver”, diz o diretor administrativo do sindicato Adilson Torres, o Sapão.
“Quero que a Volkswagen continue sendo nossa cliente, caso contrário, isso afeta muita gente e me afeta. Mesmo assim, é preciso pensar positivo e continuar aguardando”, avalia o líder de produção Francisco Ivanildo, 40, um dos que integravam a mobilização na porta da empresa. “Estou aqui porque espero pelo menos a garantia dos meus benefícios, dos meus direitos enquanto trabalhador da Keiper. Neste momento, porém, já não estou mais esperançoso”, conta o ponteador Kleberson Nunes, 31.
“Se de fato a Volks tirar os materiais daqui, a unidade vai fechar, e eles vão tirar muitos postos de trabalho, por isso os trabalhadores se aglomeram aqui em frente à fábrica, para sensibilizar a Volks e impedir que o pior aconteça”, explica o diretor executivo da entidade, Geovane Corrêa. Até o fechamento desta edição, a Volks ainda não tinha ido retirar o ferramental e o sindicato disse que os operários seguiriam em vigília no local. Procuradas, a Keiper não se manifestou e a Volks afirmou que não iria comentar a decisão da Justiça.