Tombini diz que negociações salariais devem olhar inflação apontando para baixo

Eliane Oliveira

BRASÍLIA – O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, admitiu que as negociações salariais que estão por vir no setor privado são mais um desafio para evitar que a inflação volte a subir, como aconteceu no início deste ano. Segundo ele, as negociações devem levar em conta uma inflação com trajetória de baixa, “sem olhar o retrovisor”.

Em maio, em entrevista à colunista Míriam Leitão, Tombini já havia defendido que as negociações levassem em consideração uma inflação convergindo para a meta de 4,5%, em um cenário em que os reajustes salariais são apontados como um dos principais fatores de pressão inflacionária, porque podem elevar o consumo e os preços.

Tombini, que participa de uma audiência pública, nesta terça-feira, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, afirmou que o governo continua trabalhando com a expectativa de a inflação fechar 2011 o mais perto possível do centro da meta, de 4,5%.

– O que o Banco Central pode fazer para reduzir esse desafio é mostrar claramente seu comprometimento no sentido de trazer a inflação no horizonte proposto ao centro da meta – disse ele, acrescentando: – É importante que nas negociações fique claro que a trajetória de inflação estará apontando para baixo, 4,5%, sem olharmos para o retrovisor.

Tombini também afirmou que o crédito ao consumidor evolui “em bases mais prudentes” do que no início do ano, em consequência das medidas de freio. Apesar de estar em elevação, a inadimplência bancária medida por atrasos superiores a 90 dias “deve estabilizar e começar a cair daqui para frente”, avaliou Tombini.

Na CAE, o presidente do BC fez longa apresentação sobre as perspectivas para a economia brasileira em 2011.

– Temos um crédito crescendo a um ritmo mais moderado. O Banco Central acompanha isso cotidianamente, é sua função. A evolução do crédito, principalmente ao consumo, se dá hoje em bases mais prudentes em relação ao inicio do ano.

Mais inclusão bancária e mais endividamento

Tombini informou aos senadores que cresceu a inclusão bancária. E também o endividamento. O universo de brasileiros com empréstimo bancário em valores acima de R$ 5 mil saiu de 8 milhões em 2004 para 27,9 milhões ao fim de 2010.

O número de contas abertas nos bancos soma 90,7 milhões, ante 55,7 milhões em 2002. A contagem de clientes subiu a 161,8 milhões, dobrando ante os 87,6 milhões há dez anos. As agências bancárias estão ao redor de 19,8 mil, mais 58,9 mil postos de atendimento; 165,5 mil máquinas de atendimento automático (ATMs) e 159,5 mil correspondentes bancários. Praticamente todos os 5.566 muncípios do país são atendidos por serviços bancários, segundo o BC.

Tombini disse ainda que o crédito imobiliário representa hoje 4,2% do PIB brasileiro, enquanto na Inglaterra, Holanda e Suíça está ao redor de 100%. Em média, os financiamentos correspondem a cerca de 60% do valor do imóvel, completou.

Entre os dados sobre crédito, Tombini destacou que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) informou que, no início deste ano, o endividamento das famílias brasileiras correspondia a 42% da renda mensal. Em outros países, como o Reino Unido, o patamar é de 171%; no Canadá, está em 148%; no Japão, 126%; nos Estados Unidos fica em 104% e na França, 126%.

Juros e inadimplência

Cobrado por alguns senadores CAE em relação às elevadas taxas de juros, Tombini frisou que o desafio de curto prazo é a inflação. Ele destacou que existe uma clara tendência de queda do juro real e, ao ser lembrado que a Selic brasileira é uma das mais altas do mundo, Tombini afirmou:

– Não fazemos política monetária por analogia internacional. No futuro, o Brasil tem boas perspectivas de baixar o juro real. Não se pode reduzir juros de forma irresponsável.

Tombini disse também que a inadimplência, que caracteriza o não pagamento de prestações por 90 dias ou mais, está diminuindo. Enfatizou que a expansão do crédito imobiliário ocorre em bases sólidas.

Ele justificou a decisão unânime do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter a meta de inflação para 2013 em 4,5%. Ele lembrou que o mundo não se recuperou da crise financeira internacional que começou no fim de 2008 e disse que ainda há dúvidas em relação à inflação mundial.