Após cinco altas seguidas, produção industrial despenca 3,8% em agosto

A produção industrial brasileira despencou 3,8% em agosto frente a julho, segundo dados divulgados nesta terça-feira pelo IBGE. A queda na passagem de mês interrompe cinco meses de resultados positivos consecutivos e anula o ganho de 3,7% registrado nessa sequência de altas. O tombo de agosto foi o mais intenso na passagem de um mês para outro desde janeiro de 2012, quando a retração foi de 4,9% na mesma comparação. Em julho, a taxa havia tido leve alta de 0,1% em relação a junho.

No resultado acumulado nos oito primeiros meses do ano, a perda é de 8,2%. Nos doze meses encerrados em agosto, a queda chega é ainda maior, de 9,3%. Na comparação com agosto do ano passado, o recuo é de 5,2% — 30ª taxa negativa consecutiva nesse tipo de comparação, mas a menos intensa desde junho de 2015.

André Macedo, gerente de Coordenação da Indústria do IBGE, destaca que o resultado de agosto, na comparação mensal, elimina a expansão de 3,7% acumulada pela indústria nos últimos cinco meses:

— A indústria vinha numa trajetória de avanço, mas pode ser característica desse setor industrial responder pela queda da demanda doméstica, com essas perdas, mas com alguns movimentos de resultados positivos. No contexto, nada mudou: temos, pelo lado da demanda doméstica, aumento da taxa de desocupação, queda na renda real; pelo lado do crédito, permanecem todas as características de crédito caro, restrito e escasso, preços elevados, taxas de inadimplência. Todas essas características não sumiram de uma hora para outra. Ao longo deste ano, temos comportamento negativo intenso disseminado entre as atividades. Estamos num patamar de produção semelhante ao de dezembro de 2008.

De acordo com o IBGE, a indústria voltou, em agosto, a diminuir seu ritmo de produção, com disseminação de taxas negativas. Entre as quatro grandes categorias do setor, três apresentaram recuo, e 21 das 24 atividades também tiveram redução da produção. Com o resultado do mês, a indústria encontra-se 21,3% abaixo do seu pico de produção, atingido em junho de 2013.

No acumulado do ano, a queda de 8,2% é praticamente a mesma registrada no acumulado de 2015, quando a indústria teve retração histórica de 8,3% — a maior desde o início dessa pesquisa, em 2003. No ano, as taxas negativas também estão disseminadas: todas as quatro grandes categorias apresentam retração, 22 dos 26 ramos, 64 dos 79 grupos e 72% dos 805 produtos pesquisados também têm sua produção recuando.

— No campo negativo, as maiores influências são da indústria extrativa, por conta do minério de ferro, e da redução da produção de automóveis, caminhões e autopeças. Apenas celulose e os produtos alimentícios estão no campo positivo, em razão de estarem sendo beneficiados pelas exportações. No caso dos alimentos, em especial o açúcar — explica Macedo.

Na comparação mensal, bens de capital foi o único grande grupo que não ficou negativo (0,4%). Os demais — bens intermediários, bens de consumo, bens de consumo duráveis e semiduráveis e não duráveis — tiveram queda na produção, de 4,3%, 1,6%, 9,3% e 0,9%, respectivamente.

Em relação ao mesmo mês do ano passado, a dinâmica é a mesma. Bens intermediários tiveram alta de 5%, enquanto bens intermediários caiu 6,9%, bens de consumo teve recuo de 4,1%, duráveis perdeu 12,4% e semiduráveis e não duráveis, recuou 1,9%.

Abrindo os setores, as principais influencias negativas na passagem de mês foram de produtos alimentícios, cuja queda foi de 8%, e veículos automotores, reboques e carrocerias, que recuou 10,4%. Outras contribuições negativas importantes sobre o total da indústria vieram de indústrias extrativas (-1,8%), de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,9%), de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-2,8%), de produtos de minerais não-metálicos (-5,1%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-6,9%), de metalurgia (-1,7%), de máquinas e equipamentos (-1,6%) e de produtos de borracha e de material plástico (-1,9%).

PARALISAÇÃO NA VOLKS E CANA

— As influências negativas de veículos e alimentos refletem principalmente dois problemas: a paralisação mais acentuada da produção de uma montadora em razão de problemas com fornecimento de matéria prima, e problemas climáticos no Centro-Sul, que afetaram o processamento de cana-de-açúcar e, consequentemente, a produção de açúcar — explica Macedo, em referência à paralisação nas fábricas da Volkswagen em São Bernardo do Campo e Taubaté, em São Paulo, no início de agosto.

Por outro lado, entre os dois ramos que ampliaram a produção em agosto, o desempenho de maior importância para a média global foi assinalada por produtos farmoquímicos e farmacêuticos, que avançou 8,3%, eliminando, dessa forma, a queda de 7,3% verificada no mês anterior.

Na comparação com agosto de 2015, entre as atividades, indústrias extrativas (-11,7%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-12,5%) exerceram as maiores influências negativas na formação da média da indústria, pressionadas, em grande parte, pelos itens minérios de ferro, na primeira; e óleos combustíveis, óleo diesel, álcool etílico e naftas para petroquímica, na última.

Outras contribuições negativas relevantes sobre o total nacional vieram de veículos automotores, reboques e carrocerias (-9%), de produtos alimentícios (-2,9%), de produtos de minerais não-metálicos (-11%), de produtos do fumo (-45,2%), de máquinas e equipamentos (-6,3%), de outros equipamentos de transporte (-14%) e de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-7,3%).

Por outro lado, ainda na comparação com agosto de 2015, entre as oito atividades que apontaram expansão na produção, as principais pressões foram registradas por máquinas, aparelhos e materiais elétricos (7,1%), artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (7%) e outros produtos químicos (1,8%).

TRÊS ANOS SEGUIDOS DE RETRAÇÃO

Pelo resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre do ano, a atividade industrial teve alta de 0,3% em relação ao trimestre anterior. Na comparação com o mesmo período de 2015, no entanto, o PIB do setor teve queda de 3%, apontou o IBGE.

O setor caminha para acumular três anos seguidos de retração, quando consideradas as previsões para 2016. Sob impacto da retração do setor automotivo, a produção da indústria brasileira teve queda de 8,3% no ano passado. Foi o pior desempenho da atual série histórica da pesquisa do IBGE, iniciada em 2003.