Resposta inicial à crise no país deve ser monetária, e não fiscal

Sergio Lamucci e Claudia Safatle | De São Paulo e Brasília

O desastre de ontem nos mercados financeiros, consequência do rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos, pôs a economia definitivamente na segunda rodada da crise global – a primeira começou em 2008. Com isso, segundo a totalidade dos especialistas entrevistados pelo Valor, o Banco Central brasileiro deveria interromper imediatamente o ciclo de alta dos juros e até começar a cortá-los em caso de agravamento da situação internacional. Se necessário, os depósitos compulsórios dos bancos, que hoje somam R$ 420 bilhões, também deveriam ser reduzidos para estimular o crédito. Em resumo, para os economistas, a resposta imediata deve ser monetária, e não fiscal.

Em 2008, a crise trouxe a paralisia do crédito, o que os financistas chamam de empoçamento de liquidez. Hoje, a situação é diferente e não há interrupção nas operações do interbancário. Nesse quadro, não haveria motivos para respostas apressadas.

O governo não tem pressa. Nos bastidores, considerou obviamente que as perdas nas bolsas foram severas, mas não houve fuga dos títulos do Tesouro americano. Além disso, as intervenções do Banco Central Europeu reduziram a tensão em relação à Espanha e à Itália. Tal como em 2008, mas com maior poder de ação, observa-se no governo que, além de um reforço fiscal e do estoque de compulsório, o BC conta hoje com reservas cambiais de US$ 345 bilhões e larga margem para reduzir juros no caso de uma retração forte no consumo. A própria presidente Dilma Rousseff repetiu o gesto de Lula em 2008 e incentivou a população a continuar comprando: “Não temos de parar de consumir, porque não passamos por nenhuma ameaça”.

A valorização do dólar, ontem, teve um efeito favorável: os exportadores trouxeram US$ 1,3 bilhão e o dia terminou com fluxo positivo próximo a US$ 1 bilhão.