Essa sequência, de dois anos seguidos de baixa, só foi verificada no Brasil nos anos de 1930 e 1931; ritmo de corte em 2015 e 2016 foi o maior já registrado pelo IBGE.
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu pelo segundo ano seguido em 2016 e confirmou a pior recessão da história, segundo dados divulgados nesta terça-feira (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A retração foi de 3,6% em relação ao ano anterior. Em 2015, a economia já havia recuado 3,8%. Essa sequência, de dois anos seguidos de baixa, só foi verificada no Brasil nos anos de 1930 e 1931, quando os recuos foram de 2,1% e 3,3%, respectivamente.
Como a retração nos anos de 2015 e 2016 superou a dos anos 30, essa é a pior crise já registrada na economia brasileira. O IBGE e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) dispõem de dados sobre o PIB desde 1901.
“Se a gente olhar o biênio, a retração foi de 7,2%. A gente nunca teve um biênio com uma queda acumulada destas”, disse Rebeca de La Rocque Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. A série histórica do IBGE vai até 1948.
Em valores correntes, o Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) chegou a R$ 6,266 trilhões em 2016, e o PIB per capita ficou em R$ 30.407 – uma redução de 4,4% diante de 2015.
Queda generalizada
O desempenho dos três setores analisados pelo IBGE, que entram no cálculo do PIB, recuaram no ano. A queda na agropecuária foi de 6,6%, puxada pela agricultura; na indústria, de 3,8%, influenciada pela indústria de transformação; e, nos serviços, de 2,7%, consequência do mau desempenho de transportes. Desde pelo menos 2012, a retração não era generalizada como a observada em 2016.
Também entram no cálculo do PIB a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), como o indicador de investimentos é conhecido. A retração foi de 10,2%. De acordo com o IBGE, esse resultado negativo, registrado pelo terceiro ano seguido, pode ser explicado, principalmente, pela queda da produção interna e da importação de bens de capital.
Outro indicador que também é usado pelo IBGE para analisar o desempenho da economia é a despesa de consumo das famílias, que por muitos anos, sustentou o crescimento do PIB brasileiro. Em 2016, na comparação com 2015, a retração foi de 4,2%, acima da queda registrada entre 2014 e 2015, de 3,9%.
Segundo o IBGE, a alta dos juros, a restrição ao crédito, o aumento do desempenho e a queda da renda explicam esse resultado. Também recuou, mas de forma menos intensa, a despesa do consumo do governo: 0,6% sobre 2015. De 2014 para 2015, a retração havia sido de 1,1%.
Seguindo o que já havia sido visto em 2015, com a valorização do dólar, as exportações de bens e serviços cresceram 1,9%, e as importações de bens e serviços caíram, 10,3%. “A gente teve uma contribuição positiva do setor externo na economia, com o aumento das exportações de bens e serviço.”
Três últimos meses de 2016
No quarto trimestre do ano passado, o PIB caiu 0,9% em relação aos três meses anteriores. Foi a oitava queda seguida nesse tipo de comparação. Ao contrário do que ocorreu no consolidado do ano, no último trimestre um setor conseguiu registrar resultado positivo – a agropecuária, que cresceu 1%, influenciada pela agricultura. Já a indústria recuou 0,7%, porque a indústria de transformação foi mal, e os serviços, 0,8%, que não tiveram taxa positiva em nenhuma atividade.
“Olhando para o resultado do quarto trimestre, nós voltamos ao mesmo patamar do 3º trimestre de 2010”, afirmou Rebeca.
Em relação ao quarto trimestre de 2015, a queda do PIB foi ainda mais intensa. O recuo, de 2,5%, foi o 11º negativo seguido seguido. Todos os setores tiveram desempenho negativo: agropecuária (-5%), indústria (-2,4%) e serviços (-2,4%).
A coordenadora do IBGE destacou que, comparando com os outros trimestres de 2016, o ritmo de queda do PIB diminuiu. No primeiro trimestre do ano, a queda foi de 5,8% em relação ao trimestre anterior. “A gente viu que em outros períodos, algumas atividades econômicas davam uma segurada na economia. Neste biênio, a gente viu que foi uma coisa disseminada em todos os setores.”
Repercussão
Após a divulgação do PIB, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou que o PIB de 2016 é “o espelho retrovisor”, mas outros dados mostram que haverá crescimento no primeiro trimestre de 2017.
Para Juan Jensen, professor de economia do Insper e Sócio da 4, o resultado deixa a expectativa ruim para 2017. “Como caímos em todos os trimestres em 2016, a gente parte de um nível deprimido de atividade econômica, mesmo crescendo ao longo deste ano”, diz.
Para os próximos anos, a expectativa de alguns economistas é menos pessimista. “O lado positivo dessa situação é que muitos erros estão sendo corrigidos, como, por exemplo, a redução do endividamento das empresas e das famílias, bem como o retorno do equilíbrio fiscal. Dessa forma, a economia ganha fôlego em 2017 para retomar o crescimento de forma mais consistente e, em maior intensidade, a partir de 2018”, disse Alex Agostini.
Na esteira das medidas que deverão ser aprovadas e adotadas neste ano pelo governo, o economista Jason Viera também prevê que o PIB deverá crescer na ordem de 0,5%, “concentrado na segunda metade de 2017 e avançando por 2018”.
Previsões
A previsão do mercado financeiro era que o PIB encerraria o ano em queda de 3,5%, de acordo com o último boletim Focus que trazia as estimativas para 2016. A expectativa do Banco Central era ainda mais pessimista. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), considerado uma espécie de “prévia do PIB”, indicava que a economia brasileira havia recuado 4,34% no ano passado.
Em relatório publicado no início de 2017, o Fundo Monetário Internacional (FMI) indicava que o PIB de 2016 teria caído 3,5%.
O que é o PIB
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia. O resultado negativo do ano passado é reflexo da crise econômica, do aumento do desemprego e da taxa de inadimplência.
Em 2015, a economia brasileira já havia registrado encolhimento, de 3,8%. Já em 2014, houve um crescimento de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB).
Para tentar reaquecer a economia, o governo Michel Temer tem anunciado medidas como a liberação de saques das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O Banco Central também vem reduzindo a taxa Selic, o que deve se traduzir em queda dos juros dos empréstimos bancários.