Dólar pressiona custo da indústria

Mercado interno aquecido e alta de preço da matéria-prima no mercado internacional contribuíram

A indústria de aço tenta negociar reajustes entre 5% e 12% com os fabricantes de eletrodomésticos; 6% é o pedido da indústria de tecidos

FÁTIMA FERNANDES DA REPORTAGEM LOCAL

A combinação entre aumentos de preço de matérias-primas no mercado internacional, alta do dólar e mercado interno aquecido resultou em forte pressão sobre os custos das indústrias neste início de ano.

Insumos industriais, como resinas plásticas, alumínio, açúcar, álcool e chapas de aço chegaram a registrar aumentos de preço de até 26,3% de outubro do ano passado a janeiro deste ano, segundo levantamento da RC Consultores.

Esses reajustes devem reforçar a tendência de alta da inflação, na avaliação de Fábio Silveira, sócio diretor da RC Consultores. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,75% em janeiro, acima da alta de dezembro de 2009, de 0,37%. No acumulado de um ano, o IPCA foi de 4,59%.

Os aumentos de custos dos insumos tornaram mais difíceis as negociações de preços entre indústrias e fornecedores neste mês. Fabricantes de eletrodomésticos informam que as siderúrgicas tentam reajustar os preços entre 5% e 12%. No caso de fornecedores de resinas plásticas e de vidro, a pressão é por aumentos de 7%.

O fim do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) reduzido para eletrodomésticos e os reajustes dos insumos deverão resultar em elevação de preços de refrigeradores e lavadoras de roupas para os consumidores, segundo fabricantes.

Ninguém teve coragem de subir preços, mas a pressão sobre os custos é grande por conta da alta do dólar e de custos internos, segundo um representante da indústria do setor.

“Se o dólar for para um patamar mais alto ainda [do início do ano até agora a valorização é de quase 10%], em 45 dias ou 60 dias deve ter elevação nos preços de celulares e computadores. Vamos aguardar para ver em que patamar o dólar vai se estabilizar”, afirma Humberto Barbato, presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).

A pressão de custos sobre as indústrias de confecções está mais concentrada em tecidos sintéticos. “A partir deste mês, os fornecedores querem reajustar os preços em torno de 6%. Dizem que os fios e os corantes também estão mais caros. O fato é que há mais de um ano não se mexe em preços no setor”, afirma Ronald Masijah, presidente do Sindivestuário (sindicato das confecções paulistas) e sócio-diretor da Darling, fabricante de lingerie.

A elevação de preços de insumos, na sua avaliação, está mais associada à questão da oferta e da procura. “Subiu a demanda e a oferta ainda está estabilizada. Até que essa situação se equilibre, haverá pressão para reajustes de preços”, diz Masijah.

A economia brasileira dá sinais de vida, após passar um ano sob os efeitos da crise financeira mundial, e chegou a hora de recuperar margens, na avaliação de Salomão Quadros, coordenador do Índice Geral de Preços (IGP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

“Em 2009, os preços caíram e agora começam a se recuperar, principalmente no setor de produtos intermediários. Isso não acontece só no Brasil. Os preços das commodities são integrados internacionalmente.”

É cedo, porém, na sua avaliação, para dizer se esses aumentos de custos vão pressionar a inflação. “Os preços ainda estão em patamares baixos porque caíram demais no último ano.” O grupo de insumos industriais registrou aumento de 2,16% em janeiro e queda de 3,18% no acumulado de 12 meses.

Ele cita alguns exemplos: o preço médio de adubos e de fertilizantes subiu 9,32% em janeiro, após cair 35,33% nos últimos 12 meses. Situação semelhante ocorreu com produtos siderúrgicos (alta de 0,74% e queda de 0,86%, respectivamente, no período), metais não-ferrosos (alta de 4,94% e queda de 0,86%) e resinas (alta de 2,42% e queda de 10,99%).

Para Antonio Evaldo Comune, coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe, ainda não há sinais de que a inflação possa sair de controle. “As pressões de custos em janeiro e fevereiro são tópicas e acontecem uma vez. As políticas monetária e cambial são muito responsáveis. No quadro atual, não há motivo para se preocupar com a inflação”, diz. Comune estima que o IPC da Fipe, de 3,65% no ano passado, deve ficar em 4,5% neste ano.

Para Silveira, da RC Consultores, o fato é que o “país começou o ano com o pé esquerdo” em termos de inflação, mas isso não significa que deva registrar inflação alta no resto do ano.

“O cenário internacional ainda é incerto. O baixo crescimento das economias desenvolvidas pode derrubar preços de commodities no decorrer do ano. Se os preços do petróleo e da soja caírem 10%, por exemplo, haverá inversão na tendência de preços.” Por essa razão, a RC mantém a previsão de uma inflação de 4,5% para este ano.