Empresa também estuda tirar da gaveta ainda em 2010 projeto de nova usina em Minas
Ivana Moreira, BELO HORIZONTE
A Usiminas abafou altos-fornos, adiou investimentos, fez o primeiro programa de desligamento de empregados da sua história e perdeu mercado em alguns segmentos, como o automotivo. Mas pretende mudar esse quadro em 2010. A empresa vai anunciar até o fim do mês um plano de investimentos de R$ 3,2 bilhões para este ano. E ainda poderá tirar da gaveta um dos investimentos suspensos no ano passado – o da construção de uma nova usina de placas em Santa do Paraíso (MG).
Os R$ 3,2 bilhões superam a média anual de todos os investimentos feitos entre 1999 e 2007, fase anterior à crise, em que o setor siderúrgico passou aquecido. Em Ipatinga (MG), a Usiminas fará a expansão da capacidade de produção de chapas grossas com uma nova tecnologia de resfriamento acelerado. Vai expandir também a capacidade instalada da coqueria 3 e a Unigal, unidade de produção de galvanizados. Em Cubatão (SP), o plano é abrir uma nova linha de tiras a quente. E em Itatiaiuçu (MG), onde está a mina, o objetivo é expandir significativamente a capacidade de produção de minério de ferro.
O ano de 2010 poderá também marcar o início das obras de Santana do Paraíso, cujo orçamento não está incluído no plano de investimentos de R$ 3,2 bilhões. A construção da usina, com capacidade de cinco milhões de toneladas por ano e custo estimado de US$ 6,1 bilhões, foi suspensa no meio do ano passado, depois que o caixa da Usiminas foi impactado pelo declínio das vendas de aço.
“Estamos refazendo todos os estudos para Santana do Paraíso”, revelou ao Estado o presidente da Usiminas, Marco Antônio Castello Branco. A meta é tomar uma decisão até junho. Segundo o executivo, por mais difícil que tenha sido a decisão de adiar investimentos em 2009, a medida foi acertada. Para Castello Branco, diante de um novo cenário, o projeto poderá ser reajustado.
Além de reavaliar a capacidade instalada de produção da nova usina considerando a perspectiva de recuperação da demanda, a empresa pode repensar o plano tendo em vista a oferta de gás na região e a produção própria de minério de ferro.
A siderúrgica vai investir na ampliação da participação do aço de alto valor agregado no mix de produção – a meta é elevar dos atuais 24% para 50% até 2015. “Se eu corto uma chapa de aço e entrego para um estaleiro como uma caixinha de quebra-cabeça, com as partes numeradas, eu agrego o serviço e aumento o valor daquela chapa de aço”, disse. “Queremos que metade do aço que vendemos no mercado brasileiro entre no cliente com algo a mais.”
Para Castello Branco, uma boa metáfora para o que a siderúrgica enfrentou em 2009 é o “pit stop” da Fórmula 1. O carro que estava na liderança ficou sem combustível e com o pneu furado. Teve de ir para o box. Depois de abastecer e trocar o pneu, o carro precisa sair acelerado para recuperar a liderança. A vantagem sobre os adversários terá ficado menor, mas – garante – nada que impeça o líder de reconquistar seu lugar.
Desde que assumiu a presidência da Usiminas, há cerca de dois anos, Castello Branco mudou quase tudo na empresa. Segundo ele, seu principal objetivo é garantir que o mercado tenha uma melhor percepção sobre os vários segmentos onde a empresa atua.
A partir deste ano, a companhia apresentará seus resultados por segmentos de atuação (siderurgia, transformação do aço, mineração e logística, bens de capital). Na avaliação da direção, a Usiminas estava precificada “para baixo”. Ele acredita que o novo modelo de negócios ajudará o mercado investidor – e também o de crédito – a avaliar melhor as ações.
POLÊMICA
Castello Branco, que já foi presidente da antiga Mannesmann e deixou um alto cargo no comando do grupo francês Vallourec, assumiu a Usiminas com carta branca depois da saída do ex-presidente, Rinaldo Campos Soares, que ocupou o cargo por 17 anos.
Uma das missões de Castello Branco é rejuvenescer o corpo de executivos da siderúrgica que era composto, em 40%, por engenheiros aposentados com mais de 62 anos. Segundo ele, as demissões foram estopim para uma resistência “animalesca” à sua gestão.
Contrariados, alguns executivos procuraram o Ministério Público para denunciar prática de assédio moral e sexual por parte de consultores contratados pela Usiminas. A investigação corre em segredo de Justiça. “Isso é fuxico corporativo”, resume. Segundo ele, as denúncias são falsas e têm como objetivo desestabilizar sua gestão e prejudicar o processo de mudança em curso. Segundo ele, sua estratégia de defesa é transparência, paciência e firmeza. “Venham e vejam em vez de acreditar no que estão dizendo por aí.”