Representantes da marca falaram nesta quarta na Assembleia de SP.
Ministério do Trabalho afirma que empresa precisa se empenhar mais.
O presidente da Zara no Brasil, Enrique Huerta Gonzaléz, e o diretor de comunicação da marca, o espanhol Jesus Echeverria, falaram nesta quarta-feira (21) à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo sobre a denúncia de uso de mão de obra escrava nas confecções da marca.
González afirmou que não sabia da existência de trabalho escravo em oficinas contratadas pela empresa e deixou claro que elas já existiam antes de a Zara iniciar sua operação no país. “Lamentamos que isso tenha ocorrido”, acrescentou Jesus Echeverria. O requerimento para a convocação dos representantes da Zara, proposto pelo deputado estadual Carlos Bezerra Jr. (PSDB), vice-presidente da comissão, foi aprovado em 29 de agosto.
Inspeções realizadas por auditores do Ministério do Trabalho em uma oficina de fabricação de peças da Zara em Americana, no interior de São Paulo, constataram condições degradantes de trabalho, com alojamentos irregulares, falta de banheiros e dormitórios inadequados. Após denúncia anônima de um trabalhador boliviano, os auditores encontraram 52 funcionários em ambiente insalubre, trabalhando 14 horas por dia e recebendo entre R$ 0,12 e R$ 0,20 por peça.
A fabricante Zara disse que o que houve foi uma “terceirização não autorizada”. O grupo Inditex, proprietário da marca, afirmou que revisa, em colaboração com o Ministério do Trabalho e Emprego, o sistema de produção de seus fornecedores no país para garantir que não haja exploração dos funcionários.
O auditor fiscal do Ministério do Trabalho Luiz Alexandre de Faria afirmou, também na Assembleia, que cada trabalhador de empresa terceirizada da Zara recebia R$ 2 por peça. Outros R$ 2 eram pagos à dona da confecção e outros R$ 2 eram destinados ao pagamento de despesas de moradia e alimentação. Os fiscais flagraram 15 empregados em duas oficinas que tinham peças-piloto da Zara e etiquetas da grife espanhola. O auditor estima que cerca de 200 trabalhadores ainda estejam envolvidos na produção das peças. “A empresa precisa ser mais arrojada e criativa para dar resposta a essa questão”, afirmou.
Ele mostrou imagens de oficinas clandestinas em que vivem imigrantes submetidos a trabalho extenuante. Segundo o fiscal, os imóveis onde funcionam essas oficinas não têm janelas. As famílias dormem no mesmo local de trabalho, separadas apenas por cortinas. Mães não param de trabalhar nem mesmo para amamentar. Há fios soltos, risco de incêndio e choque. O auditor também relatou casos de crianças pequenas escalpeladas por contato com as polias das máquinas de costura.