Presidente dos metalúrgicos defende Previdência igual para todos

Confira entrevista de Miguel Torres publicada pelo jornal O Diário de Mogi desta quarta-feira, 9 de agosto

Entrevista

Presidente dos Metalúrgicos defende previdência igual para todos

NATAN LIRA
Na próxima sexta-feira, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes e Região une-se às várias centrais sindicais ligadas à categoria metalúrgica para fazer uma avaliação sobre as mudanças trabalhistas com a aprovação da terceirização e da modernização. O objetivo desta análise e da reunião é verificar de que forma a retirada dos direitos trabalhistas com as reformas podem ser recompensadas nos acordos coletivos, já para a data-base neste mês.

Em visita a O Diário, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e vice-presidente da Força Sindical, Miguel Torres, disse que a Região perdeu cerca de 35% de seus funcionários, desde o início da crise, em 2015. Atualmente são 8,9 mil e, desse total, 3,8 são filiados à entidade. Quando consideradas a cidade de São Paulo e Região, são 155 mil trabalhadores representados e 35 mil associados.

Segundo Torres, a Região tem cerca de 400 empresas metalúrgicas. Dessas, 300 têm menos de 50 trabalhadores e podem ser consideradas de pequeno e médio porte. “O setor metalúrgico de São Paulo e Mogi é diferente do ABC, por exemplo. Em São Bernardo do Campo, cinco empresas de lá têm 80% dos trabalhadores de toda aquela Região”, explica. O presidente enumera ainda a quantidade de empresas abrangidas pela entidade “São 12 mil empresas, 10,5 mil com até 50 funcionários”, pontuou. As maiores da Região, conta Torres, são Valtra, Gerdau, Elgin, Fame, NGK, Schneider e General Motors (GM).

Abaixo, Miguel Torres comenta a crise no País, a situação financeira e política e os planos do setor.

Para o Sindicato, o principal problema das reformas é o fim do imposto sindical?
Não, isso corresponde a cerca de 13% do nosso orçamento. A contribuição sindical tem de ser decidida pelos trabalhadores. Esta é a nossa ideia e hoje já existe a contribuição negocial. Consequentemente, ele decide de que tamanho ele quer o sindicato e de que forma a entidade o representa.

De que forma isso vai afetar a estrutura sindical e vai obrigá-lo a mudar o modo de agir daqui para frente?
Para os sindicatos no geral, vai obrigá-los a estarem cada vez mais próximo do trabalhador. Mas isso é algo que a gente já faz. Exemplo disso: se você vai na Valtra, o nosso sindicato é o que vai lá na porta, e são inúmeros sindicatos lá dentro. Só que a nossa luta é por todos os trabalhadores, independente de categoria.

E a reforma da Previdência passa?
Eu acho muito difícil passar do jeito que está. Eles vão ter de mexer na idade, porque é o principal ponto. Com o tempo de contribuição de 49 anos ninguém mais vai aposentar. Ainda mais porque temos a reforma trabalhista, a terceirização e a previdência. A aposentadoria ficará mais difícil por consequência das demissões que ficarão muito mais fáceis. O trabalhador não ficará mais num emprego de cinco a 10 anos, como antigamente. Quando ele sai, o tempo médio em que fica desempregado, hoje, com toda esta crise, é de 18 meses. Antes, a média histórica era de sete meses. Então se a cada dois anos ele ficar seis meses parado, isso vai obrigá-lo a trabalhar cada vez mais. Se com 65 anos já é ruim, ninguém vai conseguir o benefício com esta idade, só mesmo aos 72, 75 anos e por aí vai.

E o que o senhor sugere?
A Previdência tem de ser igual para todo mundo: servidor público, político, militar e hoje não é. O teto de cinco mil e pouco é só para o contribuinte privado, porque o de agente público gira em torno dos R$ 26 mil. Um absurdo. Militares e deputados têm super salários. Em segundo lugar, que todos contribuam igual. Um dos exemplos é o agronegócio, que exporta e não paga um centavo sobre este produto, enquanto o empresário pequeno paga. Outro ponto é cobrar os devedores: tem algum deles que é trabalhador? Não, são só as empresas que já descontaram deles e não repassaram. Bancos, frigoríficos e outros ramos têm uma dívida astronômica que passa de R$ 400 bilhões. Cobrar também das evasões de divisas, só isso daria R$ 50 bilhões. Depois disso, sim, sentamos e veremos o que precisa ser feito para o futuro da Previdência. É necessário reformar, mas não do jeito que estão fazendo.

Quando se reúne para debater este assunto, não se fala sobre estes pontos?
Sim, mas o problema é que os interesses são outros, né?! Quem está por trás disso é a previdência privada. Eles estão fazendo todo este jogo, assim como fizeram no Chile, na Argentina e em muitos países.

E o déficit?
O déficit é muito polêmico, porque existe uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que mostra que o dinheiro é muito mal administrado. Tem de ter outra discussão.

E como o senhor avalia a atual conjuntura econômica?
Eu acho que o momento é de termos uma virada na economia. Nós estamos trabalhando junto com o empresariado a fim de retomar a geração de empregos. Estivemos na Fiesp para ver com os empresários o que precisamos fazer juntos. O nosso caminho agora é unir trabalhador e o capital e chegar no governo e mostrar as condições. Porque quem está fora do País com grana para investir aqui segurou, já o dinheiro interno o governo sentou em cima e não quer liberar. Precisamos demonstrar confiança

De tudo o que a gente viu nos últimos 16 anos, qual foi a encrenca maior?
Foi a Dilma. Durante o governo dela teve um volume absurdo de dinheiro gasto com uma quantidade absurda de obras. A Dilma empacou, não conversava com ninguém. Ela punha na cabeça uma coisa e segurava muito. O erro também foi do Lula, por não ter sido o candidato no segundo mandato da Dilma.

E a Lava Jato, aonde vai chegar?
Eu tenho dúvidas agora com a saída do Rodrigo Janot, porque ele era uma pessoa que brigava com todos os grupos e parece que agora a operação vai dar uma esfriada. Mas eu defendo que tem de ir até o fim, porque quem deve tem de pagar.

O Temer vai até o fim?
Mesmo sangrando, eu acho que ele vai. Eu acho isso ruim. Não estou defendendo o Rodrigo Maia, que do ponto de vista ideológico parece ser bem pior. Mas se retira-se uma pessoa que foi pega roubando, do ponto de vista social, a situação do Brasil dá uma melhora e ganhamos um pouco mais de credibilidade.