Afonso Ferreira
Em ritmo de Carnaval, aposentados levaram macas, cadeiras de rodas e réplicas de caixões para a avenida Paulista, em São Paulo, em protesto contra a reforma da Previdência.
A manifestação desta terça-feira (30) contou com a participação de cerca de 2.000 pessoas, segundo os sindicatos que organizaram o evento. A Polícia Militar não forneceu estimativa.
A passeata percorreu um trajeto de 1,6 km da praça Oswaldo Cruz até o vão livre do Masp, com direito a samba-enredo, carro alegórico e duas passistas. Ao todo, oito alas representavam os problemas dos aposentados, como custo de vida e acesso à saúde, e as suas reivindicações, como isenção de imposto de renda para a categoria e transparência nas contas da Previdência.
Entenda o que pode mudar na sua aposentadoria
Ensaiando alguns passos de samba durante o percurso, o aposentado Avelino Rossas Araújo, 72, diz que a reforma proposta pelo governo poderá afetar seus netos. “Hoje em dia, ninguém registra [a Carteira de Trabalho], é só bico. Vai ser muito mais difícil para os meus netos e os jovens se aposentarem”, afirma.
A aposentada Faraildes Gorto, 60, também diz estar reivindicando melhorias para seus herdeiros. “Não tem condições trabalhar até os 62 anos [no caso das mulheres]. Acho que o governo deveria rever e fazer [a aposentadoria] não por idade, mas por tempo de contribuição”. Hoje, uma das possibilidades de se aposentar é contribuir por 30 anos (mulheres) ou 35 (homens), sem idade mínima.
Palavras de incentivo
Apesar de estar longe da aposentadoria, o feirante Marcos dos Santos, 23, participou do protesto. Ele afirma que, caso a reforma seja aprovada, seu maior temor é não conseguir se aposentar. “Quem é que aguenta trabalhar até os 80 anos?”, declara.
Mesmo sendo autônomo, ele diz que contribui com a Previdência mensalmente. Sem ligação com sindicatos, o sociólogo aposentado João Paulo Fernandes, 69, gritava palavras de incentivo aos manifestantes. Ele, que estava na avenida Paulista para resolver assuntos pessoais, disse ser contra a reforma da Previdência.
“Eu e minha mulher somos aposentados. Se a reforma passar, ela não terá direito a receber a minha aposentadoria se eu morrer e vice-versa”, diz. Pela proposta do governo, só será possível acumular pensão por morte e aposentadoria se o valor total for menor do que dois salários mínimos. Quem tem direito a mais do que isso escolhe o de maior valor (aposentadoria ou pensão).
Governo mente em discurso, diz sindicalista
A proposta de reforma da Previdência não muda as regras para quem já é aposentado. No entanto, o governo tem afirmado que, se reforma não for aprovada, a Previdência vai “quebrar”.
Para o presidente do Sindinap (Sindicato Nacional dos Aposentados), Marcos Bulgarelli, o discurso do governo é mentiroso. “O que o governo está fazendo é terrorismo. Se há desequilíbrio na Previdência, ele é fruto de má gestão”, diz.
O deputado federal Paulo Pereira da Silva (SD-SP), presidente da Força Sindical, afirma que a reforma da Previdência deveria incluir também os militares. “A proposta do governo está errada, ela só mexe com a aposentadoria dos mais pobres.”
Segundo ele, a discussão sobre a reforma da Previdência deveria ser deixada para o próximo Presidente da República. “Votar [a proposta] a toque de caixa não é o ideal. Ela precisa ser discutida com sindicatos e com a população”, declara.