País ainda não discute mecanismos para amparar profissionais deslocados
Érica Fraga
Com o aumento da robotização, a expectativa é que muitas ocupações desapareçam e novas funções surjam. Ninguém sabe qual será o saldo disso. Mas evidências de países desenvolvidos indicam a emergência de uma polarização sem precedentes.
A tecnologia tem levado ao desaparecimento de tarefas rotineiras e repetitivas, como as administrativas. É o que alguns especialistas chamam de “esvaziamento do meio”.
Segundo esses estudiosos, vão sobrar –e surgir– empregos concentrados em dois extremos opostos. De um lado, estarão os postos muito especializados, de alto “teor” tecnológico, e, de outro, vagas de baixa qualificação.
No segundo grupo, ficarão profissionais que antes ocupavam o estrato intermediários e foram deslocados (inclusive para a informalidade).
Existe ainda a possibilidade do surgimento de um novo meio, povoado por profissionais deslocados de vagas tradicionais, que passam a realizar novas atividades qualificadas, porém de forma autônoma. Nesse caso, a tecnologia que elimina postos de um lado ajuda a criá-los de outro, ao facilitar, por exemplo, o trabalho remoto.
Olhando os dados gerais da Pnad contínua no ano passado, podemos até ficar com a impressão de que essas mudanças dessa natureza estão em curso no Brasil. Os números revelam, afinal, um encolhimento do emprego formal com expansão da informalidade e do trabalho chamado por conta própria.
A questão é que aqui esse movimento parece ter mais relação com a necessidade de sobrevivência em meio à crise do que apenas com o avanço da tecnologia, que causa disrupção, mas também traz vantagens como o crescimento da produtividade e o aumento do bem estar.
Além disso, em vários países, já está em pauta a discussão sobre como oferecer reciclagem para os profissionais que precisarão se reinventar e como ampliar o colchão social destinado a amparar aqueles com menores chances de recolocação.
São questões que nem sequer despontam no debate público do Brasil, dominado, ao contrário, pela ênfase na necessidade de cortes severos de gastos públicos.
Um dos riscos de não encará-las logo é que o aumento da desigualdade de renda –consequência mais temida das atuais mudanças no novo mundo do emprego– seja maior por aqui.