Levantamento da FGV mostra que investimento do governo em sites de relacionamento não consegue engajar internautas
Daniel Weterman
A campanha do governo nas redes sociais pela aprovação da reforma da Previdência foi atropelada por críticas e ironias à medida nas últimas semanas. Entre os dias 1º e 14 de fevereiro, a hashtag #todospelareforma, promovida pelo governo no Twitter, foi citada 12,5 mil vezes, enquanto as menções #sevotarnãovolta e #quemvotarnãovolta, defendendo que os deputados favoráveis à proposta não sejam reeleitos em outubro, foram identificadas em 23,2 mil publicações.
Os dados foram levantados pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas (Dapp) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) com exclusividade para o Estadão/Broadcast.
No total, o debate da reforma contemplou 151,8 mil menções no Twitter, no País, desde o início de fevereiro. O tema, no entanto, não ganhou volume nos últimos 10 dias, segundo a Dapp, o que indica perspectiva negativa para a votação da medida na Câmara.
“O comportamento do debate nas redes aponta, nesse sentido, aponta uma perspectiva negativa para a votação da medida, por ter engajado pouco a sociedade e mesmo os seus potenciais defensores – cabendo basicamente ao governo o papel de promover a reforma nas redes sociais e no debate público como um todo”, diz o relatório.
A reforma da Previdência é o tema econômico de maior destaque nas discussões, observa a pesquisa, e o evento do mundo político que deve gerar maior incerteza na economia nos próximos dias, passado o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A crítica às mudanças nas regras de aposentadoria ainda predomina nas discussões, com destaque para a manutenção de privilégios, a acusação de que a Previdência não é deficitária e o inconformismo, por parte da população, em trabalhar mais para se aposentar.
“Na semana do carnaval, naturalmente, houve um grande arrefecimento no volume de menções ao tema nas redes sociais. Ainda assim, há uma manutenção do tom de ceticismo da semana anterior, quando o número de menções atingiu pico histórico.”
Na pesquisa, a análise observa que o arrefecimento das discussões sobre o tema ocorre paralelamente a uma melhora do Índice Bovespa e a uma queda da taxa de câmbio.
“No entanto, a tendência, observada até então, é de que, com a volta das discussões sobre a reforma, o volume de menções volte a aumentar nos próximos dias e a incerteza gerada pela possibilidade de não aprovação volte a ser um fator que influencie negativamente o mercado”, diz o relatório.