Vale reduz preço do minério em até 25% para siderúrgica de Taiwan

Estadão Online

Acordo mostra que mineradora brasileira já deu o primeiro passo para abandonar o sistema atual de reajuste do minério

Mônica Ciarelli e Fernanda Guimarães, de O Estado de S. Paulo

RIO e SÃO PAULO

A Vale já começa a sentir no bolso a pressão da China por reajustes nos preços dos contratos de venda de minério de ferro mais próximos dos praticados no mercado à vista. Nesta terça-feira, 6, a China Steel, maior siderúrgica de Taiwan, informou que a mineradora brasileira concordou em reduzir de 20% a 25% o preço de venda do minério para entrega no quarto trimestre. 

Na prática, o acordo mostra que a Vale começa a abandonar seu modelo de reajuste trimestral, ancorado na média de cotações passadas, e caminha para um novo sistema, que inclui uma expectativa futura de preço.

Ao deixar essa porta aberta, outras siderúrgicas chinesas devem seguir nessa direção, de olho em cotações que espelhem melhor a atual volatilidade dos preços nas negociações à vista. Segundo a China Steel, a Vale teria aceito reajustar seus contratos com base na média do índice Platts entre outubro e dezembro. Para viabilizar essa nova sistemática, a mineradora incluiu no cálculo do reajuste uma expectativa para os preços até o final do ano. No sistema anterior, o preço era guiado pela média das cotações do minério no mercado à vista por um período de três meses.

Em setembro, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, já havia acenado com essa possibilidade para os contratos de longo prazo. A companhia brasileira é responsável pelo abastecimento de 30% de todo o insumo consumido pela China Steel. Na época, o executivo explicou que o cliente poderia escolher entre o sistema trimestral e um modelo formado por preços que leva em conta a expectativa futura do minério no mercado à vista chinês.

Como o novo modelo prevê uma estimativa de preço futuro, o acordo passaria por um ajuste ao final de três meses. Caso o reajuste tenha ficado acima da média real apurada no mercado à vista, a siderúrgica teria direito a um desconto proporcional no preço. Caso contrário, a mineradora cobraria a diferença.

O tradicional embate entre as mineradoras e as siderúrgicas chinesas ganhou mais força em outubro, quando os preços do minério apresentaram uma tendência de queda mais acentuada. O preço do insumo saiu de um patamar recorde de US$ 180 a tonelada para US$ 142 no final do mês. Em novembro, a média ficou ainda mais baixa, em torno de US$ 125 a tonelada.

O diretor executivo de Ferrosos e Estratégia da companhia, José Carlos Martins, já reiterou que a mineradora prefere a previsibilidade do sistema trimestral . Mas deixou claro que isso não é um dogma para a Vale, que vai seguir de acordo com o interesse de seus clientes. Martins chegou a prever que grande parte dos clientes chineses migraria para as compras no mercado à vista. Entretanto, disse acreditar que as siderúrgicas japonesas prefeririam manter o sistema anterior, calculado pela média trimestral. Procurada, a Vale afirmou que não comentaria o assunto.

Concorrentes. O acordo com a Vale é a primeira de uma série de medidas que a China Steel planeja adotar. A companhia também está em conversas com a BHP Billiton e a Rio Tinto sobre reduções nos preços e adiamentos ou cancelamentos de alguns embarques de minério de ferro e carvão de coque, segundo uma fonte de dentro da siderúrgica que não quis se identificar.

Segundo essa fonte, as duas mineradoras australianas fornecem quase 70% do minério de ferro usado pela siderúrgica. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS