Folha SP
Câmbio valoriza exportações e faz receita do setor subir no fim do ano
Produção ainda está longe de recuperar ritmo observado antes da estagnação que sofreu no ano passado
MARIANA SCHREIBER DE SÃO PAULO
PRISCILLA OLIVEIRA DE BRASÍLIA
A valorização do dólar na segunda metade de 2011 aumentou os ganhos dos exportadores brasileiros e provocou forte alta do faturamento da indústria em novembro.
Segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria), a receita do setor manufatureiro subiu 2,2% ante outubro, já descontada a inflação, a maior alta em nove meses.
O câmbio, porém, foi apenas um fator extra a impulsionar o faturamento da indústria, observa Flávio Castelo Branco, gerente de política econômica da CNI.
A receita do setor subiu durante quase todo o ano e acumulou alta de 5,2% de janeiro a novembro de 2011. O bom desempenho contrasta com o fraqueza da produção que, segundo o IBGE, cresceu apenas 0,3% no período.
Os dados referem-se apenas à indústria da transformação, que exclui segmentos extrativos, como mineração.
Segundo Castelo Branco, a principal estratégia do setor para elevar a receita mesmo com a produção quase estagnada é o aumento do uso de insumos importados.
Entre março de 2009 e julho de 2011, o real sofreu forte valorização que permitiu que as empresas importassem componentes mais baratos, reduzindo seus custos e elevando o faturamento.
Essa estratégia, porém, diminui o mercado das empresas fornecedoras, limitando o crescimento da produção e do emprego industriais.
“A alta da receita via aumento de importações é ruim pois prejudica a cadeia produtiva”, diz Castelo Branco.
Em alguns setores, como vestuário e calçados, o faturamento acumula alta, apesar da queda da produção.
De acordo com Júlio Gomes de Almeida, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria), a recente alta do dólar não vai impedir o aumento das importações, mas deve reduzir o ritmo de expansão.
A moeda, que chegou a bater R$ 1,56 em julho, ontem fechou em R$ 1,78.
Apesar do bom desempenho da receita, outros números divulgados ontem pela CNI não indicam recuperação forte do setor. O emprego ficou estável em novembro, e o número de horas trabalhadas cresceu só 0,2%.
“O desempenho no final de 2011 é sofrível”, diz Almeida.
Um dos fatores que devem contribuir para a retomada da indústria no ano que vem é a queda da taxa básica de juros. A expectativa é que o Banco Central reduza hoje pela quarta vez a taxa, de 11% para 10,5%.