Governo pede à China que limite vendas ao Brasil

O governo brasileiro pediu ao vice-primeiro-ministro chinês, Wang Qishang, em visita ao Brasil, a criação de mecanismos de “restrição voluntária” de exportações por parte de empresas chinesas de têxteis, confecções, calçados e eletroeletrônicos. A alternativa, argumentam as autoridades brasileiras, seria lançar mão de salvaguardas (barreiras temporárias à importação) a importações nesses setores, uma medida bem mais restritiva ao comércio.

Em discurso durante almoço com a delegação chinesa no Palácio do Itamaraty, o vice-presidente, Michel Temer, disse que o Brasil está preocupado “com o aumento maciço e indiscriminado de produtos chineses no mercado brasileiro”, que provoca o “deslocamento da produção brasileira”. Temer e Wang Qishan presidem a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível (Cosban), reunida ontem. “Daí porque falamos em um dimensionamento voluntário das exportações chinesas”, afirmou o vice-presidente.

Temer, à saída do almoço da Cosban, admitiu informalmente que usou o termo “dimensionamento” como um substituto para “restrição” de exportações chinesas. O mecanismo se assemelharia ao adotado no comércio entre Brasil e Argentina, a pedido dos argentinos, que criaram, por exemplo, limites “voluntários” para as exportações de sapatos brasileiros.

Apesar das pressões de associações empresariais e de especialistas em comércio para que o Brasil aplique salvaguardas específicas contra a China, previstas pela Organização Mundial do Comércio (OMC), as autoridades brasileiras comentam reservadamente que a alternativa em análise é o recurso a salvaguardas gerais, que seriam impostas a produtos escolhidos, independentemente do país de origem. Essa medida evitaria discriminar a China, que considera inaceitável a adoção de salvaguardas específicas contra ela.

Enquanto as exportações do setor eletroeletrônico brasileiro para a China caíram 1% em 2011, as importações subiram 15% e chegaram a duplicar para produtos como celulares ou quase triplicar no caso dos modems, com aumento de 174%, segundo dados da Abinee, que reúne as empresas do setor. Levantamentos encaminhados ao governo mostram um crescimento acima da média na importação de produtos têxteis e confecções da China.