Mulher é impedida de amamentar dentro do Terminal da Vl. Luzita

Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC 

Tinha tudo para ser um dos dias mais felizes na vida da dona de casa Thaís Magalhães, 21 anos. Mãe do recém-nascido Otto, de apenas 1 mês, ela saiu ontem pela primeira vez de casa sozinha após dar à luz. Na ocasião, levou seu filho para consulta de rotina no PA (Pronto Atendimento) da Vila Luzita, em Santo André. O que ela não esperava é que na volta para casa fosse submetida a um dos episódios mais constrangedores de sua vida.

Enquanto aguardava o ônibus, nas dependências do Terminal da Vila Luzita, em Santo André, a jovem foi impedida por três funcionários da empresa Suzantur de amamentar o próprio filho. O episódio ocorreu por volta das 9h15, em uma das plataformas do equipamento.

“Estava há cerca de uma hora esperando o ônibus quando decidi amamentar meu filho. Ele já estava agitado por causa da fome. Num primeiro momento percebi que dois passageiros do meu lado ficaram com olhares estranhos. Logo após, fui abordada por três funcionários, sendo dois deles com identificação da Suzantur, dizendo que não poderia amamentar ali”, relata Thaís.

Segundo ela, um dos funcionários justificou que ela não poderia tirar “os seios para fora” para amamentar. “Cheguei a questionar o motivo e ele me disse que era um atentado ao pudor, e se continuasse teria que acionar a polícia. Foi algo constrangedor. Nunca imaginei que um ato tão nobre, que é amamentar meu próprio filho, pudesse ser interpretado dessa forma, como algo errado. Não tive reação. Me senti coagida a sair dali”, desabafa.

Durante a abordagem, Thaís afirma que pediu aos profissionais autorização para que fosse até o banheiro para amamentar. Porém, mais uma vez, foi surpreendida com a recusa. “Eles disseram que se fosse até lá teria que pagar de novo para entrar no terminal, tendo em vista que o banheiro fica antes da bilheteria. O pior de tudo é que já tinha pago e não estava pedindo nada demais.”

Após a pressão dos funcionários, a jovem acabou por interromper a amamentação. Segundo ela, logo depois do episódio foi acompanhada pelos funcionários até um dos veículos que realizam o itinerário da Linha AL-127 (Cidade São Jorge/ Vila Luzita). “Eles fizeram com que o motorista saísse rápido. Confesso que não tive forças para reagir. Sou mãe solo, jovem, negra e sabemos muito bem o que isso significa no Brasil”.

Traumatizada com o episódio, a jovem diz ainda não ter conseguido formalizar uma queixa sobre o ocorrido. “Não consegui digerir tudo isso. Estou tendo apoio da minha família e assim que possível vamos analisar quais medidas tomar.”

Procurada pelo Diário, a Prefeitura de Santo André disse, por meio da SATrans (autarquia que gerencia o transporte municipal), que já cobrou posicionamento da empresa concessionária Suzantur sobre o ocorrido no Terminal da Vila Luzita. Se comprovados os fatos narrados pela jovem, o Paço poderá, por meio da Lei 16.407/15, que trata do direito ao aleitamento materno, aplicar as devidas penalidades aos responsáveis pelo ato, entre elas multa de R$ 510.

Segundo a Prefeitura, Santo André não tem “nenhuma lei municipal ou orientação que imponha qualquer restrição à amamentação em locais públicos na cidade”. A Suzantur não retornou aos contatos da equipe de reportagem até o fechamento desta edição.

MANIFESTAÇÃO

Em protesto ao episódio, grupo de mães organiza para amanhã (quarta-feira-18), às 10h, uma manifestação em frente ao Terminal da Vila Luzita. Na oportunidade, elas farão um ato simbólico onde mães irão amamentar seus filhos.