Mostra começa neste sábado, no Centro Cultural dos Correios, no Anhangabaú, e vai até 23 de setembro. Quem for verá reproduções da Sé, do Deops, da vala de Perus e do campo do Corinthians
São Paulo – Com apresentação do Coro Luther King, às 15h, começa neste sábado (21) a Exposição Dom Paulo Evaristo Arns: 95 anos, em homenagem ao cardeal-arcebispo emérito de São Paulo, que morreu em dezembro de 2016. A mostra será montada no Centro Cultural dos Correios, no Vale do Anhangabaú, região central da capital paulista, até 23 de setembro e poderá ser visitado de terça a domingo, das 11h às 17h. A entrada é franca.
No átrio do Centro Cultural haverá uma reprodução de aproximadamente 400 metros quadrados da Praça e da Catedral da Sé, com representação de alguns momentos históricos ocorridos naquela região, também no centro paulistano. Entre esses fatos, estão as missas por Alexandre Vannuchi, Vladimir Herzog, Santo Dias e Manoel Fiel Filho, todos assassinados pela ditadura. A mostra lembrará ainda as missas de 1º de Maio. A exposição inclui depoimentos e imagens inéditas, em vários ambientes.
Segundo os organizadores, a exposição foi estruturada, prioritariamente, pensando no público jovem e nos estudantes. Por isso “contará com vários elementos interativos, lúdicos e multimídia”, segundo material de divulgação. Os eixos da mostra concentram-se em temas como democracia, política, sociedade, legado intelectual, Igreja e comunicação. Destaque maior foi dado para a relação de Dom Paulo com o povo da rua, suas ações pela justiça social e em defesa dos perseguidos políticos, a interação com os trabalhadores e com os movimentos sociais.
Em uma das salas o tema será a atuação do cardeal durante a ditadura. Em área com uma reprodução do antigo Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops), o público poderá assistir à peça Lembrar é Resistir, dirigida pelo ex-preso político Izaías Almada. O trabalho é interativo – o público será “conduzido de cela em cela” –, com apresentações diárias, às 14h30 e 15h30.
Nesse mesmo espaço se encontrará uma versão gigante do livro Brasil: Nunca Mais, lançado em 1985, com denúncias e documentação sobre torturas de presos políticos, um marco do movimento por justiça e verdade. Também ali, uma outra área vai remeter à vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, em Perus, onde, em 1990, foram descobertas mais de mil ossadas, parte delas de desaparecidos durante o regime autoritário.
A exposição terá ainda uma linha do tempo com temas sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que está completando 70 anos. Em um vídeo, os 30 artigos do texto são lidos por 30 pessoas, incluindo refugiados, moradores de rua e artistas, como Criolo, Martinho da Vila e Paulinho da Viola. E não faltarão citações ao Corinthians, time de coração do religioso, com fotos e depoimentos de ex-atletas como Basílio e Casagrande.
A curadoria é das jornalistas Evanize Sydow e Marilda Ferri – autoras de biografia sobre Dom Paulo –, além de Maria Angela Borsoi, secretária do cardeal durante décadas, e Paulo Pedrini, da Pastoral Operária. Durante ato solene na Assembleia Legislativa de São Paulo, em junho um grupo chegou a fazer ameaças contra a exposição, mas nenhum incidente foi registrado posteriormente.
O evento tem apoio de várias entidades: Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), Fundação Maurício Grabois, Fundação Lauro Campos, Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Fundação Leonel Brizola, Fundação Perseu Abramo, Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal do Estado de São Paulo, O Autor na Praça, Federação dos Trabalhadores do Ramo Químico da CUT no Estado de São Paulo e Central Missionária dos Franciscanos da Alemanha.