Selic ficará em 9% ao ano e juro real será o menor da história

Ata do Copom surpreende e indica ciclo de corte menor que o estimado por economistas

Natália Flach

Se antes o Banco Central perseguia a meta de inflação, agora tudo indica que novas variáveis ganharam mais peso na lista de preocupações dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom). A mudança de postura tem dificultado o entendimento dos economistas sobre as motivações na condução da política monetária.

Na semana passada, o Copom acelerou o ritmo do corte na taxa básica de juros – ao reduzir em 0,75 ponto percentual a Selic, que passou a 9,75% ao ano- e pegou o mercado de surpresa, uma vez que os fundamentos criavam expectativa de manutenção na velocidade de queda, em 0,5 p.p..

Ontem, o BC voltou a surpreender com a ata da reunião ao deixar claro que a Selic se deslocará “para patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos, e nesses patamares se estabilizando”. Isso significa que os juros ficarão em 9% até o fim do ano, levando em consideração que o ponto mais baixo atingido pela taxa foi de 8,75% -patamar que vigorou entre julho de 2009 e abril de 2010. Confirmando- se a projeção para a Selic e um índice de inflação a 5,36% (considerando o IPCA para os próximos 12 meses indicado no Boletim Focus do BC), o juro real cairá a 3,45%, o menor da história.

O patamar indicado pelo BC, novamente, contraria as expectativas do mercado financeiro. Economistas, assim como o mercado de juro futuro (medida em contratos de DI na BM&F), trabalhavam com a estimativa de uma Selic menor, a 8,5% a.a. no fim do ano.

“Hoje, a inflação é a quarta prioridade do BC: a primeira é ter juros a 9%, depois colocar a economia para crescer e, em seguida, segurar o câmbio. Se der, querem que a inflação fique abaixo de 6,5%”, critica Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC e sócio- diretor da Schwartsman&Associados Consultoria Econômica.

O ex-secretário de política econômico do Ministério da Fazenda e economista do Iedi, Júlio Gomes de Almeida, também destaca os movimentos pouco previsíveis do BC. “A surpresa existiu, mas foi menor do que em agosto do ano passado, quando subiu e depois cortou. O mercado está passando a conhecer melhor a sistemática do BC”, avalia.

O economista, no entanto, não vê problemas na conduta da autoridade monetária. “É importante que o BC passe as suas sinalizações, mas sem ficar preso a elas. Tinha banco às vésperas da reunião que estava imaginando que o juro ia cair um ponto.” Para o ex-secretário, o PIB muito ruim justifica os cortes promovidos nos juros. “É uma opinião divergente.

Sempre vai ter, mas o BC tem a seu favor o fato de ter acertado até agora.” José Carlos Faria, economista-chefe do Deutsche Bank, destaca a multiplicidade de metas-inflação, câmbio e crescimento, além da de juros-a responsável pelos ruídos da comunicação da autoridade monetária com o mercado.

A economista Zeina Latif, por exemplo, diz que não consegue entender porque a autoridade monetária acelerou o passo na semana passada e, agora, conteve as expectativas.” Me pergunto qual seria a diferença de fazer um corte de 0,5 p.p e outro de 0,25 p.p..

Não vejo explicação. Talvez o BC tenha precisado limitar os mais otimistas ou então haja um simbolismo por trás disso: algo como o governo está atento”, diz.

Por meio da ata, o BC explica que decidiu redistribuir temporalmente o afrouxamento monetário como a estratégia mais adequada ante a desaceleração da atividade doméstica observada no segundo semestre do ano passado, assim como pela percepção de que uma solução definitiva para a crise europeia foi adiada.

Além disso, “a taxa de inflação posiciona-se em torno da meta em 2012, e são decrescentes os riscos à concretização de um cenário em que a inflação convirja tempestivamente para o centro da meta”. Deutsche Bank, CM Capital Markets, Bradesco e WestLB estimam corte de 0,75 p.p. na reunião de abril, encerrando o ciclo.